quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Nostálgicos documentos


Tenho sido tomado por um ócio profundo para escrever. Vá lá saber o porquê. Até que estou lendo bastante, do jornal à literatura, mas não tenho me permitido escrever. Também não me cobro ou receio tal ócio, talvez, seja apenas um daqueles momentos em que, apesar de observar e criar opnião sobre o que vemos e sentimos, não nos urge uma vontade de expressão e achamos por bem nos calar e melhor pensar.

É realmente interessante pensar como o hábito nos toma conta. Passei alguns anos sem escrever algo que não fosse para a academia. O mês de dezembro de 2009 me foi prazeiroso, pois reecontrei essa vontade, vontade tamanha, que hoje sinto falta de por aqui não me expressar.

Por algum motivo eu acho que ainda não entrei em um ano novo, acho que dezembro anunciava algumas mudanças que ainda não ocorreram. Não que eu não tenha nada a dizer, ou que nada de bom ou pertinente de ser escrito tenha acontecido. Há sempre o quer ser escrito, só não tenho tido urgência em me expressar.

Fui colocar em ordem umas três toneladas de papéis que guardo em ármario cor de marfim(peçinha) em minha casa; textos, certificados, documentos, provas e produções. Nessa bagunça toda que me esforçei para arrumar eu reecontrei alguns poemas que na adolescencia escrevi.

Como lembrar das coisas, das pessoas e das situações, é também muito engraçado ler poemas da adolescência. Percebemos o quanto mudamos e envelheçemos, mas as mudanças não foram tão drásticas. Mesmo adolescentes, já tinhamos impressões de nós mesmos, com certeza.

Ao ler esses poemas tive uma vontade de compartilhar essa minha adolescência, já que não estou conseguindo compartilhar o presente. Engraçado que, nunca gostei de que outros tivessem acesso a esses poemas, mas também, nunca tive coragem de desfazê-los.




Alucinado escarCÉU


Na hora dele ir, a terra ferve
Deuses e deusas copulam
saudando o amor entre os dois astros
o divino orgasmo germina o fogo
que se alastra cancerinamente por todos os infinitos espaços
forçando nos insanos um carregado e desatinado suspiro
E os gatos brancos escurescem
o misticismo exalar no ar
As estrelas unem um mutante e psicodélico quebra-cabeças
Encanta e alucina a nossa menina, já um pouco machucada, é imprevisível como toda mulher
Seu brilho explode e contagia olhos e corações acordados
em sua maior intensidade torna possível avistar os imortais
livres em sua mais pura forma de vida

Em sua volta ele traz um silêncio confortante
Os amantes noturnos agora mansamente dormem
leves como se Deus tivesse os abraçados
e o mortal da matéria inícia seu fardo
21:00 31/5/04 Gabriel Oli

Sempre gostei de admirar o pôr ou nascer do sol. Morei por muito tempo em Igarapava onde tive sempre acima de mim um céu maravilhoso e propenso à contemplação. Do telhado de minha casa eu pudia assistir à toda a cidade, em alguns momentos acordava de madrugada para ver o sol nascer do telhado. Observava e admirava. Esse poema, lendo-o agora, me lembrou muito Led Zeppelin com suas músicas místicas, principalmente a música "the battle of evemore".

Na adolescência também vamos conhecendo o valor de algumas amizades, de algumas pessoas que amamos e que queremos bem. Esse poema escrevi quando sai de Igarapava:


Estrelas Terrestres em meu Porto de Canoas

Algumas pessoas temem o abandono. Eu também.
Por mais forte que sejam nossas raízes,
o vento sopra violentamente e, sempre, nos leva a ambientes diversos
O arrastar da vida deixa marcas

Neste porto ficam algumas estrelas terrestres
Será díficil sentir seu calor, força e vida à distância
porém são grande astros, quentes seres e belas almas
que não irei esquecer ou abandonar
Ao caminhar por essa cidade
não vejo apenas os carros, as contruções e os cachorros
É visto e sentido o primeiro beijo
o primeiro porre
o primeiro amor
São lembranças. Boas recordações.

Este buraco calorosamente me acolheu
Todo ser humano é um nômade
que se instala em vidas alheias para depois deixá-las. Nuas.
Também sou um nômade e esse buraco já não me sustenta.
Jã não me adapto aqui e tenho a necessidade de ir
Nem os pássaros tem a liberdade de voar para onde querem, por que eu teria?
Pelo menos, sou livre para amar este porto e as pessoas que aqui vivem
e intensamente usufruo esse direito
gostaria de deixar alguma coisa a mais que não fosse boas lembranças
então, deixo um apelo: Brilhem, minhas estrelas terrestres, brilhem!
Mad Eros 06/12/02

Devo dizer que que Mad Eros foi um pseudônimo, que hoje acho bem engraçado, mas não mais do que a maneira como eu escrevia, principalmente, sobre as experiências ( e desilusões) amorosas.
O Corte Final
A dor nada mais é do que o querer continuar
teu bisturi é grande
teu dragão forte
Nem mesmo o mais bravo, dos mais bravos deuses do Olimpo
conseguiria chegar onde eu cheguei,
porém, chegou um hora em que tua ajuda se fez necessária
e ao invés de curar, fez maior os ferimentos.
Doeu. Uma profunda e incessante dor

Mas, no Grand Finale desfez-se o sofrimento
a luta não foi vã.
Poemas escritos.
Medos quebrados.
Forças criadas.

Quero que vá para o inferno
junto às tuas contradições, negações e incertezas
Vá! Mas... não te esqueças o que eu te disse sobre os deuses
No corte final não há dor
Com teu bisturi já cheio de sangue
tens a gostosa ilusão de que me mataste

Não há mais a dor.
Não há morte.
Há... libertação.
Obrigado.
Mad Eros 03/11/02

Acho tão interessante ver como o adolescente sofre. Parece que o mundo vai desabar. Mad Eros foi muito importante na minha vida no sentido de que me ajudou a expressar toda a vastidão e complexidade de sentimentos, muitos dos quais eu não sabia lidar. E acredito que a concretização dessa expressão, os poemas, muito me ajudaram a formar (e reformular) pensamentos, repensar atitudes e relações. Como ainda hoje ajudam.
Obrigado novamente a quem teve a paciência de me ler. Um grande abraço e até uma próxima.

Saudações, Gabriel Oliveira

2 comentários:

Anônimo disse...

Saudações Poeta!
Esses dias andei vendo uma entrevista regada a muito samba de roda com o Cachorrão. Bateu uma saudade de Igarapava...Cana Brava, casa da Usina Junqueira, seu telhado,Cajá Manga e principalmente dos amigos. Como é bom amadurecer tendo essas lembranças, nos fazem ter esperança de tempos melhores.
Vamos marcar um sarau aqui em Sampa? Estou com saudade das nossas conversas mano. Té mais vê!

Gabriel Oliveira disse...

Sarau em Sampa? Só se for na primeira oportunidade! Podemos fazer um em Igarapava também, por qu não? Ou Sacramento,talvezm estaríamos a 15km de Castigliano.
Alguma coisas matam de saudade mesmo. Mas, com certeza, reiterando o que você disse, esas lembranças nos lembram de que estamos vivos e ainda podemos criar novos acontecimentos para na memória armazenar. Vamos que vamos, caro e bom amigo!
Tenho que dizer que jamais esquecerei quem me apresentou a vista do telhado da minha própria casa, vc mesmo!
Grande Abraço