quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Poema de Natal

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Vinicius de Moraes

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Confissão

Eu minto. Sim, eu minto. Por favor, não me venham com moralismos ou hipocrisias. É mesmo dífcil adimitir que sou um mentiroso, mas isso é apenas um dos infinitos pedaços do que sou, mas nem por isso eu posso negá-lo.
Eu não minto sobre o meu caráter, minha integridade, sobre o que acho que sou. Eu não consigo. Sim, já tentei sim, mas eu não consigo ser aquilo que não quero ser.
Não minto também sobre aquilo que fiz, ou o que não fiz. As ações tomadas já se passaram, o que eu não fiz não atingiu concretude. Nunca menti quando disse o que tinha feito, também nunca o fiz quando disse que sempre fui fiel as pessoas que amo.

O atento amigo que tem paciência de aqui me ler pode se perguntar o por que vem este homem a público adimitir que mente.Eu não sei lhe responder extamente, caro amigo. O que posso aqui lhe dizer é que eu minto, eu minto por orgulho próprio.

A mentira que aqui me refiro é aquela cotidiana quando as pessoas lhe perguntam, sem nenhum interessse pela resposta, se está bem e você, sem saber ao certo como realmente está, afirma que sim. Já é da natureza humana procurar saber como estão aquelas pessoas com quem convivememos, alguns parecem até sinceros em seus questionamentos.
Acredito ser mentira também quando familiares, amigos ou outras pessoas não menos importantes em nossas vidas, me perguntam se estou bem e a eles respondo que estou ótimo, sendo que não tenho idéia do que seria mais certo responder.

Por isso, eu minto por orgulho e também por amor, jamais quero mostrar aos outros, principalmente aqueles que amo, que não estou bem, mesmo que, muito raramente eu estou mal ou depressivo, o que não quer dizer que esteja vendo o mundo através de um arco-íris.
Eu posso acordar como um Deus na Terra, sentir-me como um moribundo mendingo a beira da morte durante a tarde que passa doentia e vagarosa, e não sentir nada ao dormir e, assim, ter pesadelos aterradores e divinos sonhos.

Já não sei sofrer, não me permito sofrer. Vou alcançando meus objectivos, os dias vão passando e eu envelhencendo. Não que eu não tenha melâncolias ou tristezas, pois com estas eu convivo, mas junto comigo, envelhecem.

E eu vou ficando mais forte. Não me pergunte se estou mentindo quando digo que envelhecem as minhas tristezas com o passar meticuloso do tempo, pois amigo leitor, não tenho certeza de tal resposta.
Eu irei mentir dizendo, como se eu tivesse todas respostas para o mundo, que sim.
Não me perguntem também, por favor, se estou ou me sinto melhor que outrora estive ou me sentia, se estou mais alegre ou mais triste, porque talvez não haja certas respostas para tais perguntas como se fossemos só alegres ou tristes em nossas existências.
Não consigo mentir meus sentimentos, isso nunca consegui fazer.

Mas, tenho a capacidade de omitir pelos fatores acima citados: minhas dores, essas não são para os outros. Guardo-as para mim. Mas, nem por isso, sou daqueles que omitem para si mesmos. Tento sempre pensar o que se passa em minha conturbada cabeça, e por mais que escreva sobre mim, eu me omito, não para mim, mas para vocês que me lêem, para os amigos com quem converso, para os familiares que amo e para as mulheres que amo ou um dia amei.

E, novamente, por favor, não me venham com moralismos ou hipocrisias. Eu minto ou omito por orgulho, amor e sobrevivência, o faço para assim continuar a vida, continuar a rir do que é engraçado e brincar do que deve ser levado na brincadeira e também para não germinar preocupações naqueles quem amo e não merecem.

A tristeza minha apenas a mim interessa e eu vivo muito bem com ela, pois há imensuráveis mundos dentro de mim e ao meu redor que não me deixam ser triste ou só, sou um mar infinito que também possui tristeza.

Emiliano Alphonsus Coito

domingo, 13 de dezembro de 2009

A procura da poesia

Nesta manhã de domingo levanto de minha cama com um redemoinho de pensamentos que com uma fúria simples me tomaram a consciência. Um pensar calmo em mar tempestuoso de sonhos e aflições.
Não fazia frio ou calor, barulho não havia, creio que nem sonhos havia em meu sono. Acorda! É preciso trabalhar. APós uma caneca de capuccino, e um pedaço de panetone barato peguei o texto a estudar. Mas a cabeça não queria ler.É comum dizermos não estamos com cabeça para isso ou aquilo. Em tempos de hoje já não podemos mais nos dar ao luxo de não ter cabeça para o que deve ser feito. Mas, será? Será que nessa manhã de domingo onde o tempo parece ausentar-se, que as pessoas nas ruas não fazem barulho, só os pásssaros cantam, será que nesse mundo perdido espaço-tempo eu posso me perder também a cabeça para aquilo que devo fazer?Perdoem-me as vãs indagações. Não é sobre essas que quero conversar, muito embora elas são provenientes também da odisséia em um mar em fúria.
Faço-me a mesma pergunta que Drumond fez a si mesmo. Seria meu coração tão grande quanto outrora pensei que fosse. O poeta concluiu que não, disse:"estúpido, ridículo e frágil é meu coração, só agora vejo que nele não cabem nem as minhas dores, por isso me dispo, me exponho cruelmente nas livrarias, preciso de todos."
Meu coração também é menor do que pensei um dia que fosse. Entretanto, as minhas dores que me fazem navegar não são para os outros. Eu não sinto-me a vontade e não quero falar sobre as aflições do trabalho, a mulher que passou e o amor deixou, sobre a solidão ou a falta de sentido. Prefiro amontoá-los em meu peito e vê-lo explodir jogando estilhaços que não ferem ninguém e a partir disso reconstruí-lo. Creio estar aprendendo com os mares revoltosos onde nos sentimos pequeno perante a natureza e a (des)ordem das coisas e com as calmarias de oceanos que jogam-nos num tempo-espaço único e proprício para que possamos nos guiar, botar a mão no leme e alçar velas. Tenho aprendido também com Drumond, e quem sabe um dia como tal, eu ache a minha poesia.

Emiliano Alphonsus Coito

sábado, 5 de dezembro de 2009

Sobre a fraternidade, vamos de mãos dadas

Dias atrás eu estava por esperar o ônibus perto de minha casa. Era um tempo nublado e ameno, estava de pé em ao lado do ponto enquanto apareceu ao meu lado um vizinho. Sr. João, de uns oitenta e poucos anos, de olhar firme com um leve aspecto de cansaço onde o tempo e a experiências se mostram.
Já moro há dois anos neste bairro, tempo suficiente para ganhar um pouco de confiança do Sr. João, homem desconfiado e tido, por alguns até como reliento, mas num é não, é um bom homem.
Logo quando chegou Sr. João me perguntou se eu realmente estudava história, disse de que sim e ele começou a me falar sobre o que pensava sobre as comemorações de vinte anos da queda do muro de Berlim. E percebi uma certa paixão, em sua narrativa, dissertando sobre o exército vermelho que derrubou as forças de Hitler e que os soviéticos foram os primeiros a chegar em Berlim e também pelo governo de Fidel, a revolução cubana e Che Guevara. Notei que conversava com um homem que tinha a mente ainda bem viva e, não só isso, ainda possuia um senso crítico interessante.
A conversa foi fluindo, eu ouvindo, adoro ouvir as pessoas que tem o que dizer, principalmente os mais velhos que vivenciaram coisas que eu nem imagino, o ônibus chegou. Entramos, e sentamos em bancos ao lado do outro e perguntei a ele sobre o que ele achava sobre a experiência da ditadura militar brasileira. Ele me disse que muitas pessoas morreram e que foi uma coisa muito ruim mesmo. Mas, antes de ir embora e descer na praça Tubal Vilela Sr. João me disse: Mas, nós vivemos uma ditadura! A Ditadura burguesa! No Brasil há milhões de pessoas que não possuem o que poder comer! Levantou-se e desceu na praça pra resolver os seus assuntos particulares.
Fiquei espantado com a afirmação do meu mais novo amigo socialista. Fiquei pensando sobre a abertura política no Brasil, o processo de anistia, as lutas dos movimentos socialistas e dos reformitas.
A constituição de 1989 garatira a igualdade perante a lei de todos os cidadãos brasileiros, o direito destes ao voto, à moradia, saúde, educação e dignidade. É impossível, hoje, pensar nisso e não vir a cabeça os Sarneys ou Arrudas, os Sergios Naias e os Macedos. Homens que, no mínimo, mostram-se que não são como os outros perante a lei, como se eles fossem e fizessem a própria lei.
Mas, nessa profusão de coisas que me vinham à cabeça, as falas e a paixão de Sr. João não me deixavam em paz. Fiquei pensando como a igualdade é, realmente, fácil de ser criado em um governo de exceção, tantos quilos de ração pra cada um, cada um exerce a sua função na sociedade e se conteta com isso. Magistral e até genial é o livro 1984 de Geroge Orwel que nos mostra como a igual-dade não é díficil de se criar em um governo que toma pela força as rédeas de uma sociedade. Mas, seria esta igualdade gerada através da violência, por um governo que precisa ser unificado para não perder sua força onde tudo aquilo que é diferente pode ser potencialmente perigoso para a unidade política, capaz de lidar com a heterogeneidade, as diferenças e a liberdade de praticas culturais diversidicadas. Até hoje, as histórias mostaram que não.
Tudo bem, vamos aos exemplos: Fidel não aceitou em seus governos opositores, Mao-tsé-Tung liderou uma sangrenta e horrível revolução cultural onde morreram milhares de pessoas que pensavam e praticavam coisas que não poderiam ser toleradas pelo governo, Stálin mandou matar todos os seus opositores e muitos outros soviéticos, entre outros sangrentos e trágicos episódios.
Não podemos, assim, pensar que apenas governos de cunho socialista não conseguem lidar com a liberdade, é o governo que é tomado pela força derrotando assim o processo democrático. Não precisamos viajar muito no espaço e no tempo para visualizarmos isso, basta que recordemos golpe de 64, ou mesmo do Estado Novo de Vargas onde, em ambos, a repressão caiu perante a sociedade e aniquilou a liberdade de expressão das práticas e das idéias.
Ao cotrário, do que geralmente se pensa não foram mortos e torturados durante o golpe militar no Brasil apenas os revolucionários que se colocaram contra a ditadura brasileira sequestraram embaixadores e pegaram em armas, mas também jornalistas, estudantes, cineastas, artistas em geral, e estas pessoas simplesmente tentavam falar e mostrar que não tinham liberdade de ir, de pensar e de fazer.
Ok. Anistia, abertura, eleições diretas, DEMOCRACIA. Temos agora liberdade de expressão, salvo alguns jornalistas que escrevem sobre o Sarney, podemos veicular a idéia e a prática que queremos por variados meios de comunicação.Podemos jogar capoeira livremente ou montar um grupo revolucionário de socialistas que quer o poder.
Mas, e a igualdade. A igualdade nunca tivemos ou exercemos mesmo, né? Penso se a democracia impede a igualdade? Ou será que a igualdade é impossível em uma sociedade, como a nossa, onde cada individuo por meio de sua experiência constroi valores e luta por interesses próprios ou comuns a um grupo ou outro, como quase sempre agiu e age o homem em sociedade?
Não sei responder, são questões intrigantes.
Mas, para finalizar isto que já ficou enorme e massante. Pensei na fraterniade.
Ora, a democracia será sempre a dituradura da maioria, ou daqueles que sabem usar as estratégias de poder para usar a maioria, e por isso também, a igualdade é incabível.
Resta, então, já que a liberdade já é garantida, com exceções claro, pensarmos a fraternidade. Este é, por excelência, um conceito que pode se encaixar perfeitamente no processo democrático. Basta pensarmos no Sr. Obama que representa não apenas a comunidade negra americana no poder, mas todas as lutas por este grupo travadas desde o início do século XX, ás vezes até antes disso. E se lembrarmos do Sr. Luther King que pregava realmente a fraternidade ao revés da segregação, podemos, assim, considerar que a fraternidade seja a maior lição que nós devemos aprender e praticar nesta nossa sociedade desigual.
Afinal, a tolerância com o alter, o outro, o diferente de mim ou de você, podem nos ajudar a convivermos e coexistirmos pacificamente. Lutando, apenas no campo das idéias e nas brechas do poder. Sejamos, então, sem nenhum cunho religioso ou espirital, mas humano e político, fraternos.
Já isso, nos ensinava Drumond, em um poema carregado de metalinguistica, mas com cárater totalmente filosófico ele nos convidou a não nos afastarmos muito, a irmos de mãos dadas.

Mãos Dadas - Carlos Drumond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,a vida presente

Um abraço a todos e até mais, Gabriel Oliveira

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Um texto de um amigo

Olá amigos da rede. Vou tentar, a partir deste dia, compartilhar algumas vivencias e experiencias com vocês. Gostaria de poder publicar um texto meu de imediato, mas agora não estou com nada de alguma coisa que me faça escrever. Por hoje, já basta meu perfil. Nem sei se conseguirei colocar com frequencias postagens neste meu novo canto, um novo canto, na rede. Mas, acho interessante a idéia de ter um canto nesta rede, nesta grande teia. Demarco agora o meu.

Abaixo um texto de um amigo, que não gosta muito de publicidade, mas aqui deixo um de seus escritos com a devida autorização e os devidos créditos. Um grande abraço àqueles que aqui visitam.


"Ao levantar da cama, hoje pela manhã encontrei uma borboleta, uma borboleta preta parada a reinar sobre a parede do quarto.Era preta sim, mas não era uma mariposa, destas bobas que ficam a bater no teto de assustadas. Esta tinha um recorte de asasque eu nunca tinha visto em uma borboleta, como se ela tivesse sido feita por alguém de muito bom gosto e de fino trato.É, ela não era azul, laranja ou lilás. Era preta, e devo dizer que não só preta, pois havia variados níveis de cor preta em suas asas,a maneira como se olhasse, de perto ou de longe, de cima ou de baixo, a luz a que se colocasse, fazia-se, assim,perceptível os tons.por um momento fiquei a me indagar como aquele ser de beleza inquestionável, pelos menos para mim, houve de aparecer em meu quarto, qual seria a histórias que os níveis de preto guardam nas asas desta borboleta que fica parada como que contamplando não sei se a mim ou o meu quarto.Passadas as primeiras admirações e as posteriores indagações aceitei de muito bom grado o "bom dia" que esta borboleta preta,pois paralisada, na parede, me parecia querer me alegrar a manhã.E não é que a danada conseguiu." Emiliano Alphsonsus Coito