terça-feira, 2 de agosto de 2011

Caçar e Proteger


Caçar e Proteger

Gosto de ver o vento soprar
sou da água e do ar
espírito luso bandeirante

sou um guardião caçador
entre os mares, o amor
eu vivi e perdi, e me perdi.

naveguei, sem pressa, sem rumo
respirei, apreciei do vinho e do fumo
entre os tempos, viajei
e encontrei, fragmentos
trazido pelas ondas ou flutuando aos ventos.
Comigo e com o mundo me deparei.

Reuni pedaços, juntei histórias
ainda deixo as velas soltas,
e espero os ventos e correntes, caçando
a mim e o amor.

Neil
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Estava saudoso de escrever aqui. Desculpem a demora, "tempo de vacas magras", rs. Saudações, Gabriel Oliveira


Milton Nascimento - Caçador de Mim:


quarta-feira, 8 de junho de 2011

espírito errante

Eu gostaria de lhe falar, mas não sei como começar. Acho que só gostaria de não deixá-la fugir, como se estivesse a dois continentes em distância. Em seu silêncio, também me silencio, e nossas vozes se perdem e fico a navegar em brumas.

Não quero ferir ninguém, e isso inclui meu orgulho próprio. Ando sentindo-me como um forte e jovem capitão sem medo de enfrentar a fúria dos sete mares, mas um pouco sem vontade, vai rumando por esquinas sombrias e avenidas palacianas procurando seu cruzeiro do sul, o seu cometa, a sua insanidade.


Sou navegante, e assim vivo, flutuando, regando, em mergulhos, em quedas e calmarias, mareado e desgraçado.

Bem, se não podemos, por todos os mares que desejamos, navegar, podemos sonhar. A sempre simples sabedoria popular nos alerta que sonhar não paga imposto, o cantor e poeta já disse que sonhos compartilhados são realidades. Eu não sei. O que vejo é que não quieto o espírito e acho que jamais hei de adormecê-lo. Assim levo-me pela vã crença que, em espírito, posso evocar-lhe os bons ventos que, por ventura, precisar. Boa viagem onde estiver e para onde for.


Emiliano Alphonsus Coito

quarta-feira, 2 de março de 2011

Um carnaval - parte 2


Estávamos na rodovia 365, perto de um posto policial na cidade de Patos de Minas, comemos, bebemos água e fumamos. Passou cerca de meia-hora e apareceu um generoso carona. Um senhor de minas, com calças e camisa surradas, aberta devido ao calor, tinha branca e e rósea pele marcando um homem que vive trabalhando nos sóis estradeiros.

O senhor nos deixou num trevo, perto de Três Marias, no meio do nada. Acontece quando pegamos carona, sempre temos aquela dúvida em pegar a primeira pessoa que aparece, mas que não nos deixará muito longe, ou esperamos por uma outra que nos deixará onde queremos, mas podemos esperar muito por esta última.

No meio do nada, em um trevo perdido no meio das Minas Gerais, colocamos nossos dedos à trabalhar, nossos rostos de estudantes "boa praça" a pedir carona àqueles que passavam. Eis que parou um homem num Honda Civic, preto. Corremos à ele e vimos um senhor de meia idade que nos convidou a entrar, estava indo à trabalho para Três Marias e lá nos deixaria, era grisalho e estava impecavelmente vestido para o trabalho. Fomos tranquilamente conversando, no ar condicionado do Honda Civic, eu na frente, Roberta atrás. O senhor nos contou de seu filho que estudava em Ouro Preto, das festas que seu flho fazia, das virtudes de sua prole. Disse que nunca havia dado carona, e que nunca pensou nisso, mas quando passou por nós, não resistiu. É uma máxima que percebi quando se pega carona, as pessoas não tem esse costume, as pessoas temem o desconhecido, mas sempre se arruma alguém que dê carona, que se solidariza por algum motivo com o outro ali parado com o dedo estendido.

Passamos por um cidade que não lembro o nome, lembro de ter visto uns lagos e de ser uma cidade muito bonita, estávamos a uns 40 km de Três Marias. Quase chegando nesse destino, encontramos na estrada, um menino, aos prantos, com os pés descalços, em seu desespero, não sabia se chorava, se andava ou acenava. Jamais esquecerei o semblante de desespero daquele garoto que deveria ter menos de 10 anos, passamos e o vimos, estarrecidos. O senhor resolveu parar, parou alguns metros de distancia, e repetia em voz alta para si mesmo:"Eu e meu coração, eu e meu coração!".

O menino entrou na porta de trás, e sentou-se ao lado de Roberta. Não conseguia falar, chorava e soluçava, lhe demos água e ele bebeu, sedento. Seguimos a viagem e aos poucos ele foi se recuperando. Disse que seu pai o levara até tal cidade (anterior a que acabaramos de passar) para que ele ficasse com a avó, mas lá avó não estava e o seu pai foi embora, e o menino, determinado e astuto, decidiu-se voltar para Três Marias para reecontrar o pai.

Eu observava sua narrativa e ainda estava petrificado, quando ouvi sua história olhei para o senhor e ele me exclamou:"Tá vendo, e nós reclamamos da vida!" Me fez um nó na garganta e me pesou o estômago, ver e pensar naquele menino, andando quase 40 km, descalço no asfalto, sem água ou comida, e ninguém parou pra ele, todos com medo, e imaginava eu o medo maior que sentia aquele menino em ficar só no mundo e é assim que ele parecia estar.

Enfim, chegamos em Três Marias, a empresa que o senhor trabalhava se localizava bem na entrada da cidade e percebemos que estávamos com um "figurão". Parou o carro na porta, levantamos, pegamos as malas, agradecemos e nos despedimos, e quando olhamos para o carro para despedir do menino ele já não estava mais lá, de certo sabia que o senhor chamaria a policia, sabia que não o deixariam ficar com o pai, e se foi, sem olhar para trás e sem ser visto, continuou sua caminhada rumo ao seu pai.

A estrada é assim, passamos pelas pessoas e cada um segue seu rumo e suas verdades. Seguimos nossa viagem. Fomos, mais uma vez, eu e Roberta para a beira da rodovia (040, essa era mais movimentada).

Roberta era uma moça bonita, com sorriso largo e olhos aconchegantes, de pele branca e provida de um corpão que deveria causar inveja a muitas, fazia direito e tinha a língua afiadissima. Eu estava muito bem acompanhado, com ela foi fácil pegar carona. Lógico que estava bem vestida, de calça jeans e camiseta irradiando simpatia e mocidade.

Parou um caminhoeiro, dessa vez mais novo, negro e magro, cerca de 30 anos, casado e religioso. Sentei ao seu lado e Roberta do lado da porta, o banco era largo e parecia uma cama, fiquei conversando com o gentil carona, Roberta já exausta aproveitou e deitou o corpo para descansar.

Eu e o carona conversamos pra diabo, de mulheres a musica, de politica a futebol, de caminhões e motos, ele disse que fumava maconha de vez em quando para viajar e aguentar o stress, que já tinha tomando "rebit" mas não gostava, contou-me das maratonas exaustivas pelo Brasil a fora, falou-me de sua cidade favorita onde um dia, disse, querer morar: Fortaleza.

O gentil e conversador carona não nos deixou em Diamantina, mas em uma outra cidade pequena, em um posto policial. Já era noite, perto das 8 horas. Roberta pulou meio trôpega do caminhão como se tivesse bebido, estava cansada e não iriamos pegar carona a noite, era hora de nos ajeitarmos. O posto não tinha hotel ou pousada, nós não tinhamos barraca e estava frio, bem frio. Sem maiores opções decidimos passar a noite ali, deitariamos num banco e eu vigiaria durante a noite.

Eu estava sentado num banco, também exausto, Roberta deitou-se com a cabeça em minhas pernas, encolhendo as dela, com frio, querendo tomar banho e comer. Tentava me manter firme e alerta, e tentava dizer a ela que ficaríamos bem, passariamos a noite e saíriamos bem cedo, nos perguntavamos por Breila e Aline.

Não há como se preparar para tudo na vida, aliás, dizem até que só podemos prevenir aquilo que sabemos, e quando viajamos de carona devemos esperar qualquer coisa, ter fé em nossas forças e perspcicácia para aproveitar tudo da melhor maneira.

Continuavamos vivendo aquela cena de filme de terror, no meio de um nada, num posto velho, em um banco conversando sobre o dia que passou quando chegaram até nós dois senhores, cerca de 60 anos ambos e puxaram papo.

Disse a eles q estavamos a caminho de Diamantina para o carnaval e que passariamos a noite ali, e de súbito o mais velho disse assustado: "Aqui é muito frio de noite, muito." Eles carregavam carvão e estavam indo rumo a Curvelo, disse que poderiam nos levar até lá, deixaria a gente numa pousada e de lá estariamos a 120km de Diamantina. Ficamos um pouco apreensivos, mas decidimos correr o risco e viajarmos mais alguns kms na noite de Minas Gerais na companhia daqueles dois simpáticos carvoeiros. O caminhão era pequeno e fomos nós quatro bem apertados, Roberta ficou na porta ao meu lado. O mais velho insistia em dizer que já dormira naquele posto velho e que foi a vez que mais passou frio em sua vida e que não ficaria sossegado se nos deixasse ali. Estavam, como a gente, sujos e cansados. Cumpriram com a palavra e nos deixaram num gostosa e barata pousada à beira da estrada de Curvelo para Diamantina. Eu e Roberta vibramos. Iriamos tomar banho, comer e dormir, quentes e aconchegados.
No dia seguinte, antes das nove da manhã de um sábado de carnaval, chegamos em Diamantia, cheios de energia e vida, prontos para um carnaval frenético e psicodélico.

Gabriel Oliveira
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Saudosa Roberta! Grande abraço!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Neil e Diana




“É tarde, estou cansada, vou para a cama”, foi o que disse Diana, inesperadamente, bem ao meio do filme que assistia com seu namorado. Desenroscou-se de Neil, foi se levantando do sofá como quem pratica contorcionismo, sentindo o corpo pesar como quem carrega toneladas tombadas sobre os ombros. Como autômata, foi rumo ao quarto, sem dirigir a ele mais qualquer palavra ou olhar, mas não se esqueceu de beber o costumeiro copo d'água antes do ritual de recolhimento.

Passava da meia noite quando Diana estava, enfim, deitada em sua cama, em seu quarto. Já Neil, inquieto, não demorou a se juntar a ela. Para ele o sofá, quente e confortável enquanto acompanhado, tornava-se um banco frio, duro e cinzento na ausência de sua amada. Até tentou insistir no filme, mas não estava ali por ele, mas por ela, ou melhor, por eles: pelo compartilhar, pelo conversar, pelo toque de pele. Não se agüentou muito tempo naquela imensidão silenciosa.

Na ponta dos pés, fechou a porta do banheiro do quarto do casal e escovou os dentes, em silêncio, pois Diana já parecia dormir. Foi à cozinha, encheu um copo com água e o cobriu com um lenço de papel, como quem prevê a sede da amada ao meio da noite (Diana tem o costume de acordar pelas madrugadas, sedenta), depositou em vigília aquele copo à cabeceira da cama, ao lado dela, e, depois de um leve e breve solitário beijo de boa noite, deitou-se também.

Apesar da aparente frieza, Diana não desdenhou de seu amado, apenas cedeu ao seu corpo e mente exaustos, martirizados pela tamanha carga e esforço que vem empreendendo por trabalhar tanto nos últimos tempos, sem o devido respeito aos seus próprios limites. Ela é persistente e obstinada quanto ao trabalho, e entrega-se de tal maneira, atenta aos extremos detalhes perfeccionistas, que muitas vezes chega a adoecer.

Não é bem o trabalho a sua paixão, mas a necessidade de reconhecimento de si mesma, o que lhe provoca a sensação de missão cumprida, de espírito quase protestante ao saber que foi ao limite, ou até mesmo o ultrapassou, sem romper a sinuosa linha da ética, alcançando seus objetivos e colhendo os merecidos créditos nascidos do trabalho íntegro, árduo e auto-imposto.

Neil deitou, mas não dormiu. Ainda estava entregue ao contato quente do sofá e seus instintos aflorados queriam sexo. Talvez não só isso, ou talvez não tudo isso; mas a queria um pouco mais. Virou de costas para Diana, por um constrangimento inconsciente, tentando não demonstrar, nem a si mesmo, que lhe faltava o sono e que a desejava naquele momento. Constrangido, pois, afinal, a mulher não tem culpa daquelas vontades não saciadas de seu homem. Porém, Diana não dormia ainda, e ela percebeu, e sabia, mas permaneceu quieta, consentindo àquele diálogo mudo.

Como já dito, Diana trabalha por demais e conquistou boa posição profissional, esforço que Neil admirava e o fazia refletir e aprender sobre dedicação e persistência; mas também sabia que, em muitas das vezes, o excesso de trabalho era um algo mais para Diana, era um modo de fugir das relações e dos fantasmas de desilusões amorosas, e, principalmente, das relações familiares que tanto a torturavam. E assim, como um cúmplice silencioso, Neil a respeitava sobremaneira, esforçando-se por não sangrar feridas abertas, e em muitos momentos permanecia quieto em sua aceitação e silêncio, à espreita dos momentos certos para se aproximar dela e, ao menos, lhe oferecer algum conforto de espírito.

Dormindo um para o outro, mas acordados para si mesmos, no meio da noite, no meio da cama, acabaram por se procurar e cruzaram seus olhares entreabertos. Ela, sobriamente aliviada da culpa de negligenciar as aflições de Neil, debruçou o braço esquerdo, em que estava apoiada, até aquele rosto acalentador, e acariciou sua barba por fazer, como quem toca um tesouro raro. Ele, aliviado da angústia de quem espera, beijou-lhe o lado direito do pescoço branco e quente, como quem encosta os lábios em algo sagrado. Sorriram. Trocaram doce boa noite. Com uma paz quase beatífica, desejaram um ao outro, suaves sonhos.

Diana, apesar de ser ainda mais ansiosa que Neil, conseguiu dormir aliviada, até mesmo por ser mais prática e ter a consciência de que precisava do descanso. Já ele, ainda absorto em pensamentos, mesmo ciente de que deveria apenas dormir, fechou os olhos, mas não conseguiu. Ainda navegava, acordado, no universo de possibilidades de toques, carinhos, afagos e desejos por aquele corpo quente e amado que repousava ao seu lado, porém em conflito com o sentimento egoísta de ultrapassar os limites do próprio esgotamento de Diana. A marca de um momento de guerra entre um racional que consente e um emocional carente e incompleto.

E assim, aos poucos o tempo esgota as energias. As tensões irracionais, tão cotidianas, são desfeitas, e ambos podem repousar seus espíritos aflitos e abrir as portas ao mundo de Morpheus, entregues aos sonhos, onde tantos desencontros da vida real podem se transformar em encontros idílicos, em um tempo e espaço mágicos, onde os sentidos e os desejos se saciam e os seres podem viver seus próprios contos encantados.


Gabriel Oliveira e Karina Arantes

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Obrigado pela apaixonante parceria no texto, Karina. Extremamente grato, Gabriel.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Um carnaval - parte um





Extasiados.

Estava eu com mais três amigas no trevo de Uberlândia com a finalidade de pegar carona até o carnaval de Diamantina. Era manhã de sexta-feira, e não havia muito sol, um ótimo clima para pegar estrada de mochilas cheias e peito aberto. Um carro parou, um gol branco quadrado com um rapaz no volante, nossa primeira carona do dia, e o melhor de tudo é que fomos os quatro dentro.

Era um rapaz jovem, um pouco mais velho do que a gente e viajava a trabalho. Deixou os caronistas logo na primeira cidade, Patrocinio. São coisas de pegar carona, não podemos esperar chegar de primeira, na estrada não há horários e nem garantias, mas tudo estava mais do que perfeito, afinal já havíamos caminhado alguns bons kms em uma boa velocidade.

No trevo de Patrocinio decidimos nos separar, Breila e Aline ficaram em um lado do trevo, e mais alguns metros adiante ficamos eu e Roberta. Não deu meia hora, eu e Roberta conseguimos um homem num Fiat uno preto com sua mãe ao lado no passageiro. Era um tipo moreno, baixo e magro com seus trinta e poucos, lembrava esses orientais meio indiano meio norte africano, como saído de filme sobre a paixão de Jesus Cristo. Tentamos entrar os quatro no carro, mas não havia como devido a bugigangas do homem do uno, eram malas. Fomos eu e Roberta, rumo a alguns kms mais perto de nosso destino.

Conversamos no carro, dessas conversas de carona. De onde vem? O que fazem? Para onde vão? Entre esses relatórios, são fornecidas também sugestões, opiniões, entramos em contato com pessoas que nunca mais encontraremos, que apesar de serem fundamentais para aquele momento, não se tornarão mais do que memórias, encontramos mundos próprios, conhecemos festividades e rumos, visões de mundo e sentimentos, percebemos a vastidão do mundo e as belezas do seres humanos, somos capazes de estabelecer contato com seres que promovem suas existências e sobrevivências de maneira muito destoante das nossa. Mas, continuemos com a história, que fique o elogio a transcendência das caronas mais pra frente.

Eram evangélicos, o homem e sua mãe no fiat uno. Conversamos religião e sociedade. A mulher, perto talvez dos 60, falava menos, ouvia mais, talvez mais sábia. Aprendi, desde o começo de minhas jornadas, que conversar com o carona é fundamental para estabelecer um vínculo mais próximo, para quebrar o medo "dos outros" que temos, para demonstrar gratidão, respeito e cumplicidade, e eu falo bastante com estranhos, e gosto de ouví-los e conhecer suas histórias, algumas fantasticamente comuns e apaixonantes. Embora um pouco mais reservada, Roberta também participava da conversa sem deixar de lado suas opiniões e posições.

A carona ia bem, o homem do Uno nos deixaria em Patos de Minas, e mais uma vez fomos de carro e a uma boa velocidade. Ele nos deixou num posto policial a uns kms depois da cidade por julgar que conseguiríamos carona mais facilmente pelo fato de que os carros ali passam devagar.

Descemos, agradecemos, nos cumprimentamos e nos desejamos um bom "tudo de bom". Havia um posto de conveniência por perto, fomos atrás de água, ainda havia muita estrada no caminho. Fiquei pensando em Aline e Breila, em que ponto estariam e como, Aline era uma explosão em forma de mulher, exalava a energia da juventude com suas risadas e era frenética como uma batida de funk, usava dreads no cabelo e tinha uma tatuagem de escorpião no ombro esquerdo, tatuagem pequena com cara de venenosa, naquele corpo de italiana do interior de São Paulo, Breila era uma baixinha carismática, com uma mente solta e um sorriso aberto, aos 18, parecia uma menina de cabelo curto vivendo sonhos de muitas energias positivas. Eram irmãs de vida, a tampa e a panela, duas jovens buscando alternativas a reles existência, não temia por elas, queria saber as histórias.

Roberta se predispôs a buscar água enquanto eu "bolava" um cigarro de palha. Água. Santo remédio nas estradas desse mundo, nos refrescamos e continuamos a exibir nossos dedões e carinhas de cachorro que caiu da mudança aos carros que passavam na rodovia.

Meia hora depois, sem ainda nada conseguir, avistamos um Fiat Uno preto com nosso mais novo amigo evangélico. Parou do nosso lado, desceu do carro, e entregou-me minha máquina fotográfica, uma cybershot da sony que tenho, relíquia. Eu havia esquecido no banco de trás do carro do nosso amigo de estrada.

Eele esvaziou o carro, retirou suas malas e encontrou a capa preta da minha sony, sem saber se iria me achar, decidiu voltar e andar mais alguns kms em direção ao posto policial para devolver a aquele jovem cabeludo, que mais parecia uma versão paraguaia de Jesus Cristo, sua máquina fotográfica. Devolveu, mais cumprimentos e agradecimentos e cada um seguiu seu rumo, o altruísta e os caronistas.

São coisas que acontecem nas caronas, na estrada, livres e a mercê de infinitas possibilidades e pessoas, tão belas e humanas quanto nós mesmos. Mas a viagem, estava apenas começando.


continua

Gabriel Oliveira

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Relatos de viagem. Essa história continua. Não pego mais carona, mas era bom quando tudo dava certo, parecia benção dos Deuses. Breila, Aline e Roberta, peço licença para continuar a história e agradeço publicamente as alegrias compartilhadas.

Grande Abraço, Gabriel Oliveira

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Revisitando pelos caminhos



Revisitando pelos caminhos

Ele veio em sua direção, e ela o fitou.
Estava mais velho, mais bonito
Os traços de homem, mais marcados
Os olhos, mais sofridos e sóbrios
Carregado de cicatrizes
mantinha uma mesma doçura, no sorriso
A mesma peculiar leveza, no andar

Ela também mudara
Mais parecia, para ele, um fantasma
Uma versão viva das fumaças e sombras do passado
Assim, viva, intacta
E ainda muito bonita

Olhares
Trocaram
Tentaram sair
As palavras
abraço

O fantasma criou pele, cheiro, calor,
Amor
As sombras e fumaças do passado
Soaram e se aqueceram,
Timidamente.

Espíritos maltrados pelo tempo
Pelas ações do tempo
Em sensações antigas e silenciadas
Debruçaram-se e navegaram

Palavras queriam ser ditas
E em súbito, uma frase
Rompeu as linhas do silêncio:
Vamos tomar café?

Vamos.


Gabriel Oliveira
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Olha lá eu, tentando fazer poesia de novo! Para deixar o ambiente mais profissional, deixá-los-ei com o mestre Neruda!

O amor

Amo o amor que se reparte
em beijos, leito e pão

Amor que pode ser eterno
mas pode ser fugaz


amor que se quer liberar
para seguir amando

Amor divinizado que vem vindo.
Amor divinizado que se vai.

De crespuculario
imagem: cafe terrace at night - Van Gogh

Saudações, Gabriel Oliveira

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Recomeços sem fim



Acho que já está na hora de escrever. Tirei umas férias, muito pacata e entediante em alguns momentos, em outros não.

Parei de escrever e, digo, não é algo que me faz falta, eu vivo bem sem, não é algo que me sufoca ou pressiona, pelo menos, até o momento em que me vem a vontade, o desejo de fazê-lo, ás vezes é como um mal-estar que nasce na boca do estômago, como um soco no estômago sem dor, e lá fica e se espalha até me deixar numa calma inquietante, sem sono de madrugada e com a cabeça pensando tudo com muita calma e precisão, só que sem parar.

Escrever nessas horas me parece um meio que me ajuda a respirar melhor e achar caminhos, mesmo que tortos (e sempre são tortos e canhotos) para filtrar, elaborar, fazer o raio que o parta para que eu vomite, tudo, com gozo, e limpe um pouco meu corpo e mente. Não sei classificar isso, nem sei se quero, não sei se desse processo eu gosto ou desgosto, eu convivo assim e, de certa maneira, existe uma harmonia.

E vou me navegando, de infernos a paraísos, me deixando ser, me fazendo, modificando, envelhecendo, cada vez mais calmo e silencioso de espírito e com muita vida para ficar silente e inerte, e por isso, com o cair da noite eu vou partindo ou chegando, sempre.

Gabriel Oliveira