sábado, 11 de dezembro de 2010

Escolhas por Sohsy




Olá companheiros e leitores internautas. Hoje aqui publicarei um texto de uma aluna, que em seu texto se autointitula Sohsy, uma moça de 15 anos com muitos sentimentos e vida para tocar as pessoas.
Com e para vocês, Sohsy:

Escolhas (Sejam boas ou más), por Sohsy

Nossas vidas são feitas de erros, perdas, perdões e amores, o mais importante são as escolhas.

A tristeza não é o único sentimento que se sente calada, quando você é blindada por fora, blindar-se é um jeito fácil de fugir do outro lado do mundo, sendo o lado perverso, nojento, de injustiças e más escolhas.

As nossas escolhas e ações podem decidir nosso destino e a vida de outras pessoas seja nova, velha ou ainda não existente.

As pessoas não se vão, a matéria sim, mas o nosso pensamento sempre confronta o que é certo, e que é decidido, e acaba ficando confuso. Nesse meio tempo de escolhas e confusões você se pergunta? "Mas porque?" E ao olhar no relógio, vem a pergunta: "Nossa como o tempo passou rápido."


Nossas escolhas têm consequências sejam boas ou más!

O sonho é um caminho estranho para não sofrer, mas sempre tem alguma coisa que nos faz acordar desse mundo de tapetes de espinhos ou tapete vermelho coberto de rosas. O sonho, seja um pesadelo, mundos de maravilhas ou sonhos com a alma da pessoa querida, sem esquecer um mínimo detalhe você se pergunta se aquilo poderia ser verdade, e afirma que gostaria de viver ali com a pessoa pra sempre, só para não sofrer com a dor da saudade, que é inexplicável. Mas porque?

Porque elas se vão sem nem ter tempo para dizer até logo, mas sempre acontece o que previmos ou sentimos e mesmo assim nos pega de surpresa, e mesmo assim. Isso Dói!

E mais uma vez vem a pergunta: porque?

A nossa vida é um jogo, e tudo depende das nossas Escolhas!

Nas nossas vidas seguimos caminhos diferentes e distantes para aprendermos com nossos próprios erros, chorar, não adiantará nada, mas aliviará partes das dores. Mesmo assim não vai adiantar muita coisa, o jeito é seguir em frente e enfrentar tudo como se nada estivesse acontecido.

Mais de uma vez um pessoa me disse: " Ela é eterna, e sempre podemos aprender mais. A vida é momentânea, mas nossas atitudes de carinho, paz, alegria, tolerância, perdão ficam gravadas em nossa essência !"

domingo, 5 de dezembro de 2010

Respire



você tem seu estilo próprio. Te agrada as coisas em seu lugar, te faz bem o cheiro de "perfumes da natureza" no banheiro. Você tem tudo sobre controle. Tem um bom vinho, tem uma boa comida e um filme. Está calor, mas tudo bem, há janelas e um ventilador.

Mas as coisas não estão em seu controle. Você está sendo testado, a cada instante, não sabe qual é a prova na qual deve passar, e não sabe se está indo bem ou não, mas consegue mandar tudo para o inferno, por que você gosta do seu estilo, não o joga fora, tem medo de ser o que não é, de fazer o que não faria, mas aí está está a questão: você, realmente, conhece a si mesmo?

Tem medo de ser contraditório, como se fosse uma unidade indivisivel, como se não tivesse desejos. Adora gabar-se a si mesmo de seu jeito mineiro, que conquista pela mansidão e respeito, que vai, pelas beiradas atingindo um centro cheio de recompensas e mistérios reveladores. Você chega até se perguntar se poderia ser e agir de uma outra maneira, diferente da qual alicerça, mas não tem a coragem de atacar de frente, você até que enfrenta as sitações, mas borra-se de medo ao simples pensar em agir de uma maneira que, de algum modo, possa ferir a imagem que tem de você mesmo.

É um covarde que pode até saber o que quer, mas tem medo. Medo de não corresponder as expectativas que você mesmo criou de si , a imagem do mineiro. Tem até a coragem de adimitir, mas sua braveza e destreza não passa do campo ideólogico, é fraco nas ações e no trato com as pessoas que o circulam, receia ferir os outros, mas é tão egoísta que o seu maior medo é ferir a si mesmo, usa de subterfúgios, " sai pela tangente, disfarçando uma possível estupidez" porque é incapaz de enfrentar nas ações as pessoas e os perigos.


Você prefere o campo das idéias, vive nelas, refugia-se nelas. Vive cercado de pessoas queridas e amáveis, por que vc se faz querido e amável, por é incapaz de ter paixões e agir passionalmente. Até tem lá seus momentos intempestivos e espontaneos, mas são muito mais raiva e medo do que vontades passionais. É um fraco.


Então, esconda-se em sua caverna, cave fundo sua cova, cave com suas próprias mãos até sangrarem, até poder sentir sua carne latejando dentro de você, quem sabe assim, sentirá a vida.


Mas você não sente, orgulha-se de sua sensibilidade mas é duro como uma pedra, e não é um rolling Stone, é imóvel e nem consegue criar um limo.


Mergulha profundamente nas profundezas do inferno e não leva ninguém consigo, é orgulhoso demais para chamar alguém, prefere sair com suas próprias forças, mas onde estão elas?


Edifica-se como uma estátua em sua toca intocável, e quem sabe, um dia, e como você gostaria disso, seja quebrado à marretadas ou levado por um maremoto.


Emiliano Alphonsus Coito

domingo, 28 de novembro de 2010

Hold On, soldier




Ás vezes não sei por que precisamos nos alimentar, somos imensuráveis bolas de fogo vital, e necessitamos de oxigênio, exigimos as condições para sermos vivos, buscamos incessantemente espaçonaves para nos ascender aos céus, somos também anjos degredados aspirando à morte.

Não sei se sou ou se existo, sei que gosto de explodir, de raiva, de alegria e medo, e juntar os cacos caídos e jogados , escondidos, ínfimos, e colar todos para formar o que, antes, fui. Não se trata de ressuscitar o passado, porque ele nunca morre, as explosões são para eu me sentir vivo, talvez para experimentar uma concretude de mudanças, para sentir o tempo e que não estou alheio a ele e que ainda vivo, mesmo sem sonhos, esperanças ou forças.

Gostaria de brincar com a morte, me relacionar intimamente com os anjos das trevas, correr certo, sem rumo, ao desconhecido e intangível. Gostaria de gozar na cara da morte e dar-lhe um tapa forte em seu rosto, cuspir nela e herdar a ira dos deuses já que todos os dias vem o carcará a comer minhas entranhas que renascem com o passar das madrugadas.

Como um lagarto queria mergulhar nas folhas amareladas de outono, ser mais rápido e feroz do que os ventos de agosto, uma bala de canhão que explode ao ser atirada violentamente contra o inimigo.

Não quero ser paz, porque não sou paz, nunca fui. Sou tão egoísta e traiçoeiro quanto o mar. Agarro-me aos sonhos, com tamanha força que chego a perder as unhas e sangro incessantemente.

Sou um soldado perdido num campo de batalha, já perdi as raízes, presenciei o horror da condição humana e já não tenho para onde ir ou voltar, minhas unhas já estão crescendo, mas não paro de sangrar.

Emiliano Alphonsus Coito

domingo, 21 de novembro de 2010

Para Diana Pinheiro

Oi, tudo bem com você?

Pensei muito tempo em lhe escrever, como uma maneira de conversar, de querer me mostrar, de compartilhar.Em muito momentos, estive invadido de sentimentos em situações diversas, explodindo ou morrendo, cada um de um jeito, cada um a sua maneira de ser e estar, pensei que você seria a pessoa que mais prazer me daria ao compartilhar meus meus cantos e minhas redes. É por isso que aqui lhe escrevo.

Eu estou seguindo em meus caminhos, navegando com minhas certezas, sinuosos e traiçoeiros, tão belos quanto a natureza humana. Estou indo para outros mares e rios, já me acostumei a ser errante, e é até bom, você sabe melhor do que eu, como é bom saber que construimos nossos próprios caminhos, com nossas próprias forças e medos também. Se erramos ou acertamos, não é proveitoso pensarmos, já diziam: "deixe o julgamento paras as crianças", no fazer dos nossos caminhos vamos mergulhando profudamente, e ás vezes nem percebemos, na eterna luta de autoconhecimento, o desejo de nos buscar.

A família vai bem. Todos em paz, ou cada um em sua paz, na eterna graça de seus deuses. Tem gente que sente muito a sua falta (falta não, me desculpe), a sua não-presença física, vivem me perguntando como está você. E como vão os seus? Dê a eles, quando puder, meu abraço.

E espero que esteja procurando sempre a sua paz também, e sei que sempre procurará, é uma das mulheres mais fortes que já conheci. Sabe, por mais que eu tema e receie intempéries em sua vida, inevitáveis, por te querer bem, é claro, também sei que que confio na sua força e destreza de guerreira helênica, de sutileza amazônica .

Bem, já é de madrugada aqui e viajei durante todo o dia, estou bem cansado hoje, quis muito lhe escrever nesse fim de semana de verão de calor úmido, e agora vou me repousar. Descansei o espírito, agora vou descansar o corpo.

Espero que esteja bem, sonhando, em paz.

Com muito Carinho, Neil.

----------------------------------------------------------
O amigo acaso me apresentou essa música agora pouco. Lembrei de ouvir lorena ( o primeiro CD seu que ouvi em sua casa, não esqueço pois foi a única mulher colocou lorena para eu ouvir rs, dessas boas coincidências das vidas) e lembrei da paz que me dava ao ver e ouvir você tocando.É um de seus maiores charmes, acredite. rs.

http://www.youtube.com/watch?v=W27qBedBbM4

domingo, 14 de novembro de 2010

Navegando, poetando




Sim. A poesia não se perdeu. Estou apenas farto e desgastado de ressucitar fantasmas e de criar imaginárias situações e seres verossímeis. Sou poeta e não abandono a poesia, mesmo calado, mesmo ausente e escondido.


Não respiro poesia, mas eu a crio, não falo, mas escrevo, ou sinto apenas, amontôo-as todas e as jogo em meus mares, seladas, mas nunca impermeáveis.


Sou de paixões, vivo de paixões, alimentam minha alma sedenta de vida já tão cheia. As poesias, como as paixões, fazem de mim um homem melhor, mais perto do que considero como um homem deve ser. Sentido de minha vida é amar.


Não tenho horas certas, sonho acordado, em um mundo tangível eu imagino outros, chego a tocá-los, sou vida pulsante e úmida, sou navegante. Não sou diferente dos insetos que parecem nascer das chuvas e que procuram luzes e calor. Eu também renasço das chuvas e da madrugada, e ressurjo como esta, sóbrio e silencioso, meio preguiçoso até, nada anunciando àqueles que não sabem ouvir.


Tenho medo de acordar a madrugada, de despertar dos sonhos acordados, de estragar a poesia, por isso me calo, e navego com a maré, em silêncio e em paz.


À querida Ane, Gabriel Oliveira
----------------------------------------------
"Íntimo como a melâncolia e ínfimo como um grão de poesia" Drumond ou Vinícius (não me recordo)

sábado, 13 de novembro de 2010

estados de tempo

Lá fora faz um frio gostoso. E não é bem frio de verdade, é frio de chuva temperado com o da madrugada, devia ter um nome para isso, se bem que os nomes acabam por esfacelar o aroma e talvez essência daquilo que sentimos.

Sentimos tanto calor nesse nosso Brasil tropical, o suor nos é tão comum que, ás vezes, tememos os calafrios. Um dia ainda hei de morar em lugar onde possa sentir, exatamente, o passar do tempo, das quatro estações. Já disse muito isso, talvez porque a grama do vizinho sempre nos aparenta mais verde, e que eu muitos vezes maldigo o sufocante calor.

Mas hoje, nessa madrugada chuvosa tão carinhosa, percebo que os ventos sopram em todos os lugares e trazem, com ele, as mudanças do tempo de uma maneira de outra.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Promessas



Por tanta coisa passou Neil neste ano que estava por acabar, navegara por mares de sentimentos itensos e tempestuosos, terminara uma relação que o levou a sentir o amor como nunca antes sentira, ainda inexperiente nessas desventuras, sofreu muito, quase perdeu o sentido das coisas, por pouco o leme não se quebrou a o mastro não se partiu.

Todo ano se passa, e permanecemos com um mesmo ritual, dentre vários outros: o reveillón. O nosso momento de passagem, como fosse um ponto de mutação, um marco, um divisor de águas em nossas vidas.

Já em novembro Neil decidira que passaria seu fim de ano viajando, há anos que não curtia a sensação de liberdade, de prazer de viajar, simplesmente por querer conhecer e viver, nos últimos anos só havia viajado para visitar parentes, cerimônias familiares, trabalho e também para acompanhar sua ex-mulher Diana. Mulher com quem rompera há pouco tempo, logo após as férias de julho. E depois de um tempo de resguardo e luto, Neil queria novamente sentir
o mundo e entregar-se aos seus prazeres. Sozinho, com suas próprias pernas e com o fôlego revigorado.

Apareceu Alba. Neil a conhecia já há algum tempo, fora namorada de um colega seu. Eles, Alba e Neil, moravam em cidades bem distantes um do outro, mas mantinham um contato através
das maravilhas virtuais da internet. Por muitos anos trocaram idéias, filosofias, poesias e músicas, o contato, ás vezes, se rompia por meses ou anos, mas sempre o refaziam, e por anos e anos nunca mais viram-se, restringiam-se aos contatos virtuais, não chegavam a uma natureza muito íntima, trocavam mais os gostos, as impressões e indagações. Neil sempre respeitou seu espaço individual e o mesmo sempre o fez Alba.

Sempre gostou de viajar Neil. Por muito tempo viajou até de caronas com companheiras fiéis de viagem e de estrada, conheceu lugares que nunca imaginara conhecer, muitas vezes sem dinheiro e sem maiores pretensões a não ser cair no mundo, conhecer a humanidade das diferentes pessoas, sotaques e costumes. Experimentava o sabor da liberdade correndo pelo seu corpo, sentia-se um conhecedor das vidas humanas, de seus medos e prazeres e muito aprendeu nos seus caminhos percorridos.

Em uma das conversas de internet, Neil contou à Alba seus novos anseios de viajar, sozinho pelo mundo, mesmo que brevemente, mesmo que para perto, durante a passagem de ano, e juntos começaram a pensar nos lugares possíveis e desejados. Montanhas, cidade nostálgica e cachoeiras, encontraram o lugar preferido por Neil, que por um momento de coragem e alegria incontida convidou a jovem, no outro computador, que lhe fizesse companhia, jogando por terra suas idéias primeiras de caminhar sozinho por lugares e pessoas desconhecidas. Mas, também era ela uma desconhecida com a qual tivera pouco contato real, e acima de tudo sempre a achara extremamente bonita e muito interessante.

Alba é uma mulher do mundo. Tem a beleza de uma deusa olímpica e sabe que é bela, tem o conhecimento do que provoca nos homens, mas tal qual uma deusa vaidosa ela não cativa
apenas pela aparência, tem uma iteligência invejável e uma personalidade forte e determinada, Alba tem poesia nos olhos e nas ações e é determinada, provida de uma teimosia construtiva também invejável.

Ela quis. Ela aceitou seu convite, e ainda mais, mostrou-se muito entusiasmada. Naquele mesmo domingo, esqueci de dizer era um domingo de novembro, começaram,ambos, a pesquisa por pousadas e hoteis, cada um mais bonito e aconchegante do que o outro, mas era preciso ter cautela para não ser enganados por truques e falsários de internet. Em menos de uma semana já tinham tudo nos conformes, pousada reservada, gastos e fundos analisados e a viagem de fim de ano muito prometia.


(To be continued)


Gabruiel Oliveira

sábado, 30 de outubro de 2010

Em fragmentos, a esperança

O tempo parece parar. O instante parece tudo que temos. E não é pouco, há muito no momento. Parece que se ouvirmos o instante não se cala, se estivermos prontos para navergar ele nos mostra o movimento.

Dizem que antes de morrer podemos ver toda a nossa vida que se passou diante de nossos olhos, se assim for estou eu sempre morrendo, mas quem não está?

Masitgo a carne do momento como quem quer tirar o sumo da vida e com ele semear mais vida.

As mudanças conduzem nossos momentos diversos e infinitos, e sempre temos os instantes, posso tocar os sentimentos que me traz a maré, intensos como o mar, tempestuosos e sublimes.

Posso ver o que guardo e carrego comigo, os resquícios dos intantes que se passaram mas se não foram de todo, são parte de mim, fragmentam-me mais e mais a cada sopro de vida. Acendo um cigarro mais e os comtemplo, navegando sem rumo certo nos mares de minha essência.

Li por ai que somos feitos da mesma matéria que os sonhos. Sonhos não têm matéria, mas nós temos vida e talvez com vida preechemos os sonhos. Eu também sou sonho, sou esperança de que os instantes nunca acabem, mesmo que escapem de nossas mãos como água salgada ou doce, sou esperança de que a vida se refaça constamente, e de repente nunca mais esperarei, pois já não serei mais matéria, serei apenas sonho e instantes (infinitos) passados.

Espero até lá poder fazer um bom uso da matéria pulsante em mim, até lá sou também e principalmente, esperança.

Emiliano Alphonsus Coito

------------------------------------------
Música do conjunto português Madredeus:


http://www.youtube.com/watch?v=iRbWFC-KAz4

Ainda
Vou dizendo
Certas coisas
Vou sabendo
Certas outras
São verdades
são procuras
Amizades
Aventuras
Quem alcança
Mora longe
Da mudança
Do seu nome
Alegria
Vão tristeza
Fantasia
Incerteza
São verdades
São procuras
Amizades
Aventuras
Quem avança
Guarda o amor
Guarda a esperança
Sem favor...
Ainda
Ainda
Ainda

domingo, 24 de outubro de 2010

Morning Glory




Uma musquinha eletrônica leve soou do celular anunciando o despertar de um dia cheio. Diana ordenou o despertador a tocar uns 10 minutos depois, a função "soneca" lhe é sagrada, sua cama é seu templo e castelo, seu sono é divino. Enfim se levantou, esticou-se e caminhou ao banheiro, encostou a porta, e iniciou seu ritual do amanhecer.

Neil estava de férias, não precisava se levantar naquele momento,e embora já acordado, fingia ainda dormir, adorava observar o íntimo ritual do despertar de sua amada. DO quarto ouvia o barulho das águas e do chuveiro, Diana adora banhos quentes, mui quentes, e logo os perfumes do banho, dos sabonetes, shampus e cremes acariciavam o olfato de Neil, e ele deitado, num sono-acordado, esticava-se, relaxava e gozava o doce da intimidade.

Diana saiu do banheiro, com todo cuidado para encostar a porta novamente com receio de que a claridade não viesse a acordar seu homem, estava com a toalha enrolada em seu corpo, embora cansada,o banho a relaxava como quase nada nesse mundo.

Ainda com o corpo úmido ela deixa a toalha para vestir-se. Primeiro as íntimas, depois a escolha da roupa apropriada, vestido ou calça? Verde ou violeta? E Neil observava o strip-tease ao contrário, e como adorava. Tudo tinha seu lugar e a sua hora, cada etapa com um jeito próprio. No final, já estava um tanto apressada e abria a caixa de jóias e bijuterias para pegar um anel ou um brinco, ou ambos, e todos, a roupa, os acessórios, todos com um propósito, com um fim, exprimiam em sua totalidade um ar, o seu ar naquele dia, parecia dizer para Neil onde iria ela, que iria fazer e como nesta manhã acordara.

Neil fazia um contato vivo e mágico com a personalidade da mulher que amava, e adorava isso, poder participar, mesmo observando, poder compartilhar com sua amada os seus momentos onde ela sentia-se só e livre, e poder degustar a graça, o zelo e a beleza que tinha Diana ao se arrumar quando acordava, como se olhava no espelho para arrumar o brinco e ver se estava de acordo, o toque que passava nos cílios e como ao final de tudo, passava o protetor solar na tatuagem que tem na perna.

Neil levantou-se enfim e de imediato foi carinhosamente repreendido, durma mais, está cedo, disse Diana. Neil iria voltar para cama ainda um pouco, mas não naquele momento, após assistir o seu ritual preferido, gostava de se levantar, preparar algo para que Diana não saisse com o estômago vazio de casa, e também adorava, vê-la engolindo, às pressas, uma xícara de leite quente com capuccino, seguida de um beijo breve, ás vezes mais intenso ás vezes não, e um bom dia amor.

Como Neil gostava de suas férias, quando Diana saia, ele voltava para o quarto que ainda exalava o perfume misturado ao vapor do banheiro, ele deitava novamente na cama e dormia um pouco mais, tranquilo e relaxado como se tocado em Deus ou vigiado pelos anjos.

Gabriel Oliveira

----------------------------------------------------------------------------------
um texto muito inspirador para este que escrevi é de Xico Sá, colunista do yahoo!:http://colunistas.yahoo.net/posts/60.html

domingo, 17 de outubro de 2010

A bela moça Furtiva

Exatamente ás 14:30 partiu o ônibus da rodoviária, não inciara ali sua viagem, já vinha de longe, de outras cidades, o que chamam de "carro em trânsito". Não houve atrasos nem complicações maiores do que as costumeiras, não estava cheio, não era o início e nem o fim de feriado prolongado quando as pessoas esbarram-se nos terminais.
Na poltrona 21, sentou e acomodou-se Neil. Ao que parecia, por toda a viagem ninguém sentaria ao seu lado e poderia esticar-se da melhor maneira que lhe coubesse. Era um ônibus aconchegante, não havia cheiro de cigarro, de urina ou comida. Ao que tudo indicava seria uma viagem não desagrádavel e, simplesmente, comum.

Do outro lado do corredor, nos assentos ao lado de Neil, debruçava-se sobre a janela a moça.Uma moça bonita, com seus vinte e poucos anos, cabelos longos, pele branca, mui branca, corpo esbelto e roupas comuns.

Neil, bem que tentou, mas não evitou observar a moça, a bela moça, como se não conseguisse apenas olhar, apenas reconhecer que ao seu lado havia uma bela moça, necessitou observá-la, com todo o cuidado que lhe é de costume, não lhe apetece invadir a privacidade alheia, mas era como se a moça ao seu lado lhe roubasse o olhar e a atenção.

Quando ela o olhou, Neil percebeu o por que de tamanha curiosidade, os singelos olhos castanhos da moça (tão claros), pareciam furtar a luz do sol que lhes tocavam, e que depois de furtada a luminosidade da estrela, eles distribuiam com abundância e altruísmo o brilho e aconchego furtados. Neil não é desses de perder o seu lugar no mundo por qualquer moça bonita que passa pela rua a sua frente. Essa viajante ao lado, realmente, parecia lhe furtar a atenção, o sono e os pensamentos.

Podemos ler no dicionário que furtar é subtrair algo alheio sem o uso da força ou da ameaça, e era exatamente isso que a moça ao lado era, uma moça furtiva. Neil, não conseguira piscar o olho e convocar o sono durante a viagem, para não se deixar levar de todo, não se deixar furtar como um todo, leu o livro que estava em suas mãos, sem deixar de, hora ou outra, observar a bela moça.

Por que não conversara com ela? Não se sabe ao certo, imaginamou que ela também lhe furtara a coragem, como se ele não quisesse atrapalhar a moça que parecia não querer ser incomodada, no mundo de hoje, as pessoas tem medo de serem abordadas por estranhos mesmo que estes apresentem a melhor das boas intenções, afinal não é de hoje que a sabedoria popular nos aconselha que de boas intenções o inferno está cheio.

Ela dormiu. Neil não acreditava no que via. Quanta graça, quanta beleza e calma exalava. O pescoço levemente curvado para a esquerda, o corpo (aquele admirável e completo corpo) jogado com tanta leveza no banco do ônibus, parecia jazer num leito celeste, jorrando brilho e paz, e ela dormia, e Neil não se continha, também de alegria e paz.

Notem que a bela moça furtiva, não apenas furtava, mas também distribuia, tal qual uma Hobin Hood contemporânea da beleza e da graça.

Neil tentava não observar a todo momento, não queria despertá-la de seu sono, queria apenas sonhar com o que sonhava a moça, compartilhar com ela tamanha paz que sentia ao fitá-la. Olhava pela janela a estrada e os carros que passavam, um sol castigava o mundo exterior e, tal qual a um sonho, ele não o sentia, dentro daquele ônibus a temperatura mantinha-se a mesma por conta do ar condicionado.

Neil não se continha, começou a poetar o que sentia a observar a moça, mentalmente. Descobria adjetivos e metáforas que lhe cabiam ao fenômeno que observava, e quanto mais poetava, mais se encatava, mais se exaltava interiormente, menos se continha a observar o sono da bela moça furtiva, seus trejeitos, como descansava os braços, como virava para o outro lado deixando-o apenas com o perfil do rosto.

Lá fora começou a chover, infelizmente, Neil não sentia o aroma das águas molhando o asfalto em brasa, mas seu êxtase era tamanho que era como se inspirasse a brisa da forte chuva de verão adiantada, olhou novamente a bela moça furtiva, fechou os olhos e sentiu-se correndo ao lado da grama ao lado da estrada que solene molhava, sentiu-se deitado nela, rolando o corpo na grama, que não pinicava, aconchegava. De olhos fechados, Neil sorria e desejava que a moça ao lado sentisse com ele essa sensação de liberdade e prazer, sinestésica e lisérgica. Como se quisesse sonhar por ela, como desejasse retribuir a paz e alegria por ela distribuida.

Ela acordou, e os olhos castanhos demoraram alguns segundos a exprimir a solenidade de outrora, como se ainda perdidos entre o mundo do sonho e a tangível realidade. Neil não conseguiu conversar com ela, afinal, o que diria? Oi, não sei teu nome, mas vejo tu como uma bela moça furtiva que me furtou o sono, a atênção e os pensamentos. Não soaria tão normal como da maneira que tudo aconteceu, ele iria parecer um galante qualquer, um aproveitador. Não, Neil, não se aproximou.

Pensou que não conseguiria se fazer entender, não seria capaz naquele momento de exprimir todo o respeito e carinho que já adquirira pela graça da bela moça, mas ele queria muito, e como queria, embalar seu sono, tentar de todas as maneiras fazer com que seu gostoso sono jamais terminasse, ou pelo menos dar-lhe um "boa noite" com um beijo de carinho e respeito em sua pele branca e quente entre os seus pequenos seios (e como são acalantosos os sinceros e carinhosos afagos de "boa noite").

Antes da viagem de Neil chegar ao fim, breve e inesperadamente tal como ele entrou, a bela moça furtiva desceu do ônibus. Ele nada disse, nada manifestou, ela se foi. A viagem prossegue.
Neil nunca mais verá a bela moça furtiva, mas de que isso importa? Ela, que passou, lhe furtou o sono, a atenção e os pensamentos, e principalmente, o tédio de uma longa viagem de ônibus.
Ela que vá furtar e distribuir a outros, não sou egoísta, pensou Neil.

Gabriel Oliveira

imagem: "Encruzilhada" de marcelo Taube.
fonte: http://mondomoda.wordpress.com/2009/11/18/exposicao-de-marcelo-taube/
------------------------------------------------------------------------------------------
Como de costume, deixo alguns versos do "poetinha", Vinicius de Morais do livro Antologia Poética.
Poema dos olhos da Amada

Ó minha amada
Que olhos os teus

São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe dos breus...

Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus...

Ah, minha amada
que olhos os teus

Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas era
Nos olhos teus.

Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Imprevisibilidade


A vida também é feita de desencontros, mas é uma sensação muito boa aquela do estar no lugar certo, com a pessoa certa, no momento certo, e muitas dessas coisas não acontecem só por acaso como armadilhas boas do destino.

Os momentos de sonho real não surgem do nada, somos nós os seus arquitetos, somos nós que lançamo-nos ao inesperado, enfrentamos o frio na barriga e na espinha e aceitamos correr os riscos.

Não podemos prever quando viveremos mágicos momentos, em muitos casos até, nada sai como o previsto. Podemos viver ou iniciar uma gostosa aventura em uma conversa despretensiosa em um ônibus, no caminho para o trabalho, em casamentos, e talvez até (pasmem) em velórios.

Vivenciar uma gostosa aventura nos faz ascender aos céus, ou nas palavras de Noel Rosa "sambar de alegria, sorrir de nostalgia". Sentir o prazer de estar vivo, quando menos se espera, experimentar a parte alegre da imprevisibilidade e lançar-se em mares desconhecidos e prazerosos sem instrumentos de navegação provoca-nos uma explosão de vida, sentimo-nos portadores de uma potência sobre-humana e capazez de guiar o leme de nossas vidas por onde e como quisermos.

E como é bom. É como estar de carona com Neil Cassidy no México ou nas experiências de Thimoty Leary e ter, naquele momento, as chaves para todas as respostas do mundo!

Mas, a viagem tem um final (ou finais) e seus efeitos alucinógenos também. Da mesma maneira que não escolhemos todas as vezes que seremos apanhados a ter a possibilidades de viver gostosas sensações, também escapa de nossas mãos o controle de manutênção das mesmas sensações. Não é suficiente apenas boa vontade e força para guiarmos o barco, é necessário bons ventos, da mesma maneira que não apenas o amor incondicional é suficiente para a manutênção de uma boa relação.

Enfim, o destino nos convida a viver bons e únicos momentos, depende de nossas forças, vontade, sonho e uma boa pitada de coragem para que possamos vivenciar realmente o que nos aparece apenas como possibilidade, e depois somos apanhados novamente pelo curso natural das coisas e pelo instranponível tempo que nos faz acordar, voltar a realidade, pousar os pés ao chão e voltarmos aos mares de outrora, ou outros, e essas sensações por mais memoráveis que sejam, vão almotoando-se como memórias.

As infinitas possibilidades, garantida pela inerente imprevisibilidade da vida humana nos demonstra que temos uma certa gama de escolhas, que podemos escolher lutar para viver certos momentos ou não, que temos certo poder nos rumos que tomamos. Entretanto, a mesma imprevisibilidade também pode nos jogar às pedras ou aos tubarões, ou simplesmente terminar com o que é bom, com o sonhos, com os bons ventos.

Podemos, então, a partir disso, concluir que a imprevisibilidade também é uma condição humana. E se assim pensamos, apesar de termos a predisposição para temer o que é desconhecido, muitas vezes devemos nos lançar a este, alçar alto as velas, olhar nos olhos, encarar o que queremos ( e também tememos), encher o peito e lutar não apenas para prolongar as boas sensações, mas principalmente para podermos viver todos os bons momentos a que tivermos a possibilidade, para saborearmos todos os chocolates, do doce ao amargo, para imortalizar e eternizar (mesmo que sejam finitos e breves) os bons momentos. Antes que nossa vida anoiteça!
Gabriel Oliveira
------------------------------------------------------------------------------------------Alguns versos conhecidos de Vinicius de Moraes


Soneto de Separação


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente"

"Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."

domingo, 10 de outubro de 2010

Emiliano, um peixe grande




Os fins de semana! Aqueles dias que muitos esperam para recuperar as energias, para divertir e cometer loucuras, para econtrar com família e/ou amigos, ou, simplesmente para ficar em casa, com as pernas para o ar vendo os minutos passarem sem assim se preocupar.

Há finais de semana em que Emiliano Alphonsus não sai de casa. Não pense você, logo de primeira impressão que nosso referido personagem é uma pessoa anti-social, pois não seria esta uma análise bem detalhada. Tem muitos amigos, tem boas relações com as pessoas com quem convive, acredita que é melhor conviver bem com as pessoas do que semear conflitos desnecessários, e além disso, é um cara sorridente, amigo, ou como por aí chamam: "boa praça".

Mas, há finais de semana em que Emiliano não sai de casa. Sexta, sábado e domingo passa em sua caverna. Emiliano mora sozinho, se bem que, como uma boa pessoa boa em fazer amigos, não podemos dizer que Emiliano mora totalmente só, ele tem lá suas companhias breves e passageiras, ou não.

Mas, neste final de semana, Emiliano não conversou com ninguém. Nem mesmo encontrou Giselda, a perereca, de madrugada no banheiro, ou Tina, a branca largatixa, pedunrada na parede preocupada em se esconder e comer insetos, e até mesmo Clotide, a bicicleta, estava
quebrada e não serviu de companheira em pedalas furtivas pela madrugada.

O leitor atento e curioso pode-se perguntar o que faz, nesses finais de semana nosso personagem. Devemos admitir que Emiliano não é bem um cara hiperativo, possui até o que chamam de "lerdeza" em fazer coisas, uma certa não-pressa, como se tivesse vontade de degustar os momentos que passam e ações que faz. Mas, Emiliano faz coisas, não é de ficar muito tempo parado no mundo esperando alguma coisa acontecer, e mesmo quando parado, aparentemente inerte, Emiliano faz algo, estejam certo disso.

Nesse final de semana, nem as plantas e flores do jardim Emiliano regou. Há duas semanas atrás que o tempo mudou, a chuva, enfim, apareceu após três meses de exílio e Emiliano não viu mais a necessidade de regá-las todos os dias, como estava de costume. Nessa estiagem última, Emiliano por todos os dias que podia regava seu jardim, composto de flores amarelas, vermelhas, rosas, além de outras árvores que não sabe nem os seus nomes, a casa em que mora é de aluguel, não foi ele quem as plantou, mas gosta de vê-las vigorosas e apaixonantes. Regava o jardim todos os dias, ás vezes ficava mais de meia hora, observando, brincando com as cores, o verde, a água da mangueira e sua velha máquina digital. Tirava fotos, fazia filmes, adorava sentir, em meio aquele ar seco e desértico da cidade a gostosa sensação do verde molhado, da terra úmida, ás vezes era tão bom que não queria sair do jardim, queria mais é ficar ali, regando, brincando, esquecer do tempo e enfiar o nariz na terra molhada. Mas, nem isso mais Emiliano fez esse final de semana. Caiu tanta água nos últimos dias que passaram que temeu que mais água fizesse mal a suas queridas amigas verdes.

Saiu apenas no Domingo a noite. Estava com fome e não queria sua própria comida. Em alguns finais de semana como esse, Emiliano não sai sem seu fone de ouvido e o celular repleto de músicas que ele conhece e gosta. Como Clotilde estava inapta, foi a pé, como a muito tempo não fazia. Foi caminhando, ouvindo música, com as mãos aos bolsos do short, num caminhar sóbrio e tranquilo como é de costume de nosso personagem.

Pediu o lanche e uma cerveja, lata, brahma. Sentou-se, em uma mesa, em frente ao lanche na praça de seu bairro. Quando Emiliano está nesses finais de semana "de caverna" ele não tem tanta vontade de conversar, prefere mais é observar. Com o fone nos ouvidos, não presta a atênção na televisão que passa, acho que nem está tão interesssado na música que ouve. Ele vê, e não apenas vê, ele observa o mundo que se passa ao redor. Observa as pessoas, e como tem curiosidade pelas suas ações.

E ficou observando as pessoas que sairam naquele domingo, naquele final de semana, e como tem interesse nelas, como acha curioso aqueles que saem de casa para relaxar da semana exaustiva que passou, ou os que saem de casa para realmente conversar com a família ou amigos, os namorados explodindo de hormônios e desejos guardados, há aqueles até (menos afortunados) que saem no domingo a noite para trabalhar. E Emiliano adora observar.

Por favor, não entenda nosso personagem como uma pessoa "reparadeira", que gosta de observar os defeitos e mal hábitos das pessoas, o que lhe interessa mesmo são os modos, as sutilidades, as maneiras de relacionamento e os mundos possíveis que se pode imaginar ao observar as pessoas na rua.

Como tem dúvida a senhora que permanece mais de 15 minutos, imóvel, com o cardápio na mão, escolhendo o quer comer, ou como soa entediante para o garoto ajudar o pai em seu trabalho em pleno domingão, ou a feição tensa e até raivosa da moça que senta ao lado do namorado sem querer muita conversa. O que teria feito ele? Estaria ela, realmente com raiva dele, ou da mãe ou pai? Emiliano não tem tais respostas, mas adora as perguntas, simplesmente adora.

Ele parece observar as pessoas como num imenso e móvel aquário, como se fossem peixes convivendo num habitat cercado. E assim, fica a observar as ações, as feições, os trejeitos, alguns tão sem jeito, outros sem modos, fica a imaginar seus mundos, o mundo a que cada um pertence, os mares onde cada um veio e como assim vivem. Como já dito, ele não tem certeza de nada do que pensa sobre essas pessoas, nem tão pouco é de fazer conclusões ou julgamentos, Deus o livre disso.

Mas ele fica observando os peixes que nadam, cada um com um nado diferente, uma preocupação e natureza própria, e acha tão mágico observar e tentar fazer teorias ciêntíficas à base de uma observação metodológica.

Ás vezes passa pela cabeça de Emiliano que o peixe é ele, e é ele quem vive num áquario gigante e móvel, onde ninguém o toca, ninguém com ele nada, mas ele tudo observa, de dentro pra fora, de sua água para o mundo exterior, e como é curioso o mundo fora do aquário. Entretanto, se peixe mesmo for Emiliano, não é um do tipo comum, Emiliano é um peixe grande, um peixão, impescável, único e solitário.

Gabriel Oliveira

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Deus, a solidão e a condição humana



As pessoas, em geral, tem tanto medo, não que eu também não tenha. As pessoas tem medo de não acreditar em Deus. As pessoas tem medo da solidão.


Eu não. Já me acostumei, desde a infância, a conviver com a idéia de que somos sós, de que não há meios humanos para fugir da condição humana.


Eu poderia acreditar em Deus, confortar-me com a idéia de que há um plano maior para mim, que eu faço parte dos desígnios Dele, mas isso nunca me coube. Como, me pergunto, acreditar em Deus?


Alguns poderiam me responder que não haveria meios da natureza ser tão bela e perfeita, da mulher que passa (e passou) ser tão maravilhosa, do ser humano existir e ter vida
pulsante em suas veias, da vida ser cheia de "miraculosos" acontecimentos e que isso tudo que é o nosso mundo, poderia, apenas, ser obra divina.


Mas não, não me cabe. A beleza é real, a vida é real. Acho que sou muito prático e não gosto de perder tempo em me preocupar se isso, se tudo isso, foi feito por um cara no céu que chamamos ser superior. Ao contrário quero ver,viver, sentir a beleza, a vida, a tristeza e tudo mais que é intrincado e inerente à vida humana.


Somos breves, passamos simplesmente. Podemos deixar vestígios, marcas ruins ou boas. Podemos pensar que o momento é eterno, que o presente é um presente, e que o tempo não nos prende e que viveremos eternamente, como o momento, e que a morte não existe, pois não há como assassinar o que é eterno. Isso também é confortante. Mas ainda não me cabe.


Assim como não temo ter apenas uma vida, não temo ser só. Não que eu seja forte, uma rocha ou uma ilha, também assim não sou. Mas não temo ser quem sou. Ser só não me faz feliz, mas a não-felicidade também não me amedontra. Relacionamo-nos com as pessoas para suprir fraquezas, medos e inseguranças, e muitos passsam a vida inteira pensando que é real a arquitetada segurança. O conforto que adquirimos com os outros é tão construído e ilusório como a segura e cômoda idéia de existência de Deus.


Argumentem que pode tudo até ser, sim, meras construções humanas para preencher os medos e vazios causados pela insegurança da existência, uma ilusão da nossa psiquê e da sociedade
para melhor vivermos, ou vivermos mais felizes, mas mesmo assim é uma boa ilusão e, assim, fico eu sem argumentos, pois eu também construo ilusórias seguranças para me manter aqui sentado em frente ao computador escrevendo. Talvez, seja uma forma de não me sentir tão só, eu acredito que sim.


Nunca disse que gosto de ser só. Mas não gosto de fugir da condição humana, não me agrada negar que a vida é breve e única, que Deus não a criou e não tem para ela um plano maior, e que se a morte é a única certeza que temos, também sei que sou eu a única pessoa que estará comigo até o fim.


Vivemos(bem ou mal) sem Deus, sobrevivemos sós(com nossas próprias forças) e ainda permanecemos vivos, respirando no seio da não-felicidade. Somos humanos, somos fracos, mas sabemos resistir (alguns), não sem dores e machucados, mas não podemos fugir da dor, não devemos temê-la. Não tenhamos medo das perguntas sem respostas, da angústia existencial, dos confrontos de mundos e opniões, dos ferimentos da vida, da indivudalidade e da solidão desta, pois não devemos negar a nossa condição, somos humanos.


Talvez, assim, não sejamos tão felizes e não chegaramos a construir altos castelos de cartas, mas também não teremos nossas individualidades e razões atrofiadas e resignadas.
A vida segue seu rumo e cada um escolhe os seus mares navegantes.

- - -- - - - - - - - - -- - - - -
Para variar encerro com um pensamento do eterno José Saramago, que não foi ao céu ou ao inferno, mas plantou frutíferas árvores em seu presente, e um pensamento de Caio Fernando de Abreu.


"Não sou pessimista. O mundo é que é péssimo" e "Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro" J. Saramago

"Os homens precisam da ilusão do amor da mesma forma como precisam da ilusão de Deus. Da ilusão do amor para não afundarem no poço horrível da solidão absoluta; da ilusão de Deus, para não se perderem no caos da desordem sem nexo." C.F.A.

Gabriel Oliveira

sábado, 25 de setembro de 2010

A Travessia de Giselda

Giselda adora aventuras. Certa vez, estava na lagoa e ficou achando aquilo tudo muito parado e costumeiro. Resolveu, então, botar o pé na rua. A lá francesa, bateu em retirada. Nunca tinha estado do outro lado da rua, e a rua é tão cheia de coisas assustadoras, esse ano mesmo uma colega tinha sido atropelada pelas coisas rápidas e violentas que passam na rua. Mas, Giselda nunca tinha visto tais coisas, era uma jovem e protegida perereca que nunca havia saido de seu ninho.
Acho que Giselda e todos nós nunca saberemos o por quê da atitude que ela tomou. Rebeldia? Coisas da juventude? De Família? Bem, na verdade não importa, não pra Giselda. Ela simplesmente o fez, como naqueles momentos em que somos tomados por uma vertiginosa adrenalina que nos diz estarmos fazendo a coisa certa e devemos fazê-la imediatamente.
Giselda foi para o outro lado da rua, não foi seguida, nem vista. Foi um momento só seu. Ela atravessou para o outro lado. Sentiu a gostosa sensação de estar transgredindo toda a ordem de sua vida. Primeiro, sentiu medo e dúvida, mesmo assim o fez.
Giselda é dessas pererecas sapecas, possui um fogo dos infernos. Apesar de preocupados, seus pais não esperavam outro destino para ela que não o mundo infinito e perigoso que escolhera para si.
Desde aquela fatídica noite de primavera, quando Giselda fez a "travessia", as coisas nunca mais foram as mesmas na família, e Giselda sabia, já não era apenas uma jovem perereca, era uma perereca de atitude, que tinha uma personalidade própria com forças e coragens que ela jamais antes conhecera.
E como nos parecem grandes e assutadoras as coisas que nos acontecem depois das ruas que circundam o lago.

Gabriel Oliveira

Giselda

Essa é a história de Giselda. Giselda é uma perereca. Ela mora não sei onde, se é que Giselda mora em algum lugar. Acho que Giselda tem várias moradas, podemos dizer que Giselda é uma perereca aventureira, dessas que já nascem inventivas e arteiras.
Já tive a ilusão de que Giselda era minha perereca, que morava em algum canto da casa, escondida embaixo da folhagens que insistem em cair no chão do jardim. Mas não, Giselda é do mundo, ela é e dá mais um encanto ao mundo, e me dá uma imensa alegria poder compartilhar com Giselda minha morada, onde podemos nos desmanchar, e em segurança descansarmos das aventuras dessa vida.

Gabriel Oliveira

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Aminetu e a luta pelos direitos cívis

Por esses dias chuvosos em Uberlândia, e acho que em todo o sudeste brasileiro, li em sites de notícias e blogs sobre uma mulher.Uma mulher que comoveu o mundo inteiro e a mim também. Seu nome é Aminetu Haidar.

Aminetu é uma ativista que luta pelos direitos humanos e pelo reconhecimento do povo Saaráui. O Saara ocidental é dominado, hoje, pelo Marrocos, e desde 1976 um movimento em prol da autonomia deste povo criou a República Árabe Saaráui Democrática que é reconhecido por mais de 45 Estados Nacionais, entretanto, o governo de Marrocos não abre mão de seu território e influência.

Voltava para sua casa após uma viagem aos Estados Unidos, que a homenageou como defensora dos direitos humanos, quando, ao chegar no Saara Ocidental, forças marroquinas pegaram o seu passaporte e a enviaram para Lançarote, na Espanha.
Neste aeroporto Aminetu começou uma greve de fome no dia 15 de novembro como um meio de forçar autoridades marroquinas a devolverem seu passaporte, de maneira que ela pudesse voltar a sua casa: "Sim, como mãe, penso primeiramente em meus filhos, mas prefiro arriscar minha sáude do que viver sem dignidade, prefiro que meus filhos fiquem sem mãe do que vê-los viver sem dignidade" disse ela à um reporter espanhol.

Assim, como já disse, o mundo se comoveu com esta forte mulher. A espanha, país que colonizou a região do Saara Ocidental e do Marrocos, ofereceu nacionalidade à ela. Mas ela não podia aceitar, pois queria de volta o reconhecimento da sua nacionalidade saaráui e se aceitasse ser espanhola não mais voltaria a sua casa, de acordo com a mesma: "Eu seria uma estrangeira em meu próprio país, eu tenho nacionalidade, eu tenho minha casa".

O escritor José Saramago, que reside em Lançarote, colocou uma coluna em seu blog como medida de apoio. Cineastas (como Almodovar), atores (como a bela Penelope Cruz), políticos e milhares de outras pessoas assinaram e escreveram cartas a Obama, ao monarca espanhol ao governo marroquino, enfim, todos se sensibilizaram com a ativista deportada, mãe separada de seus filhos, uma mulher apaixonada não só pelos seus familiares como também pela sua integridade e pela dignidade de seu povo.

Depois de 32 dias de greve de fome, Aminetu Haidar pode retornar a sua casa e reecontrar-se com seus filhos: "Não sei se vou à casa ou ao cárcere, mas agradeço muito o apoio de todos".

Achei interessante como eu não ouvi falar do caso desta mulher nos telejornais brasileiros. Tudo bem, confesso que tenho assistido cada vez menos televisão. Mas, tenho acompanhado as notícias que saem na internet pelo"Yahoo" e pela "Uol", pricipalmente.
E mesmo na internet, muita coisa não achei nos sites de notícias brasileiros. Achei uma breve citação no site da "folha on line" e uma ausência gigantesca no site do "Estadão", que está tão preocupado com a censura que deveria olhar para outros abusos de poder no mundo.

O ativismo de Aminetu nos faz pensar sobre a resistência contra dominações anti-democráticas onde pessoas simples perecem e sofrem. Alguns falam que já não existe mais luta, outros que o mundo caiu em um individualismo crônico, há até aqueles que argumentam que acabaram-se as lutas de classes.
Aminetu Haidar nos mostra, como se precissase ser mostrado, que ainda há por quem lutar, pelo que lutar. Luta digo não no sentido da experiência socialista ou que devemos pegar em armas para combater as mazelas todas deste mundo. Não é isso. Eu acho que o que Aminatu nos ensina é que devemos combater àqueles que roubam a dignidade, autonomia e liberdade de um alter qualquer. Como a vida, os direitos humanos também devem ser respeitados.

Esta mulher a que estão chamando de Ghandi do Saara está demonstrando ao mundo que devemos encontrar meios de coexistirmos pacifícamente e respeitarmo-nos da mesma maneira. E além disso, que em nome da dignidade humana devemos levantar nossas bandeiras e lutar, mesmo sem armas, mesmos que ganhemos aos poucos, mas que o façamos.
Aminetu nos faz lembrar do pacifismo radical de Henry David Throreau e eu aqui convoco aqueles que nunca ouviram falar nem de Aminatu, nem de Ghandi ou Thoreau que se informem, olhem ao seu redor, reparem as discriminações, as viõlações dos direitos humanos, as usurpações, os abusos de poder e o sofrimento daqueles que estão perto de vocês.
Não lutemos para acabar com o governo, lutemos por um governo melhor. Não há como lutar para o fim da luta de classes, lutemos assim, pela erradicação da miséria. Tomemos partidos, içemos nossas bandeiras e não nos resignaremos.
Fraterno abraço, Gabriel Oliveira
___________________________________________________________________
fonte da foto acima e de muitas outras informações aqui contidas sobre Aminatu haidar, no blog de José Saramago e da Fundação José Saramago: http://www.josesaramago.org/blog/blogpor.php

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Alpinista

O alpinista
Do alto, sobrevoando o monte da existência
o urubu observa
Cansado, porém esperançoso o ser escala
Um som ecoa nesse deserto infinito e vazio
diz uma palavra: "viva"
sem nexo, escolha ou força maior
ele vai de encontro ao pássaro
Mad Eros 12/11/02

Nostálgicos documentos


Tenho sido tomado por um ócio profundo para escrever. Vá lá saber o porquê. Até que estou lendo bastante, do jornal à literatura, mas não tenho me permitido escrever. Também não me cobro ou receio tal ócio, talvez, seja apenas um daqueles momentos em que, apesar de observar e criar opnião sobre o que vemos e sentimos, não nos urge uma vontade de expressão e achamos por bem nos calar e melhor pensar.

É realmente interessante pensar como o hábito nos toma conta. Passei alguns anos sem escrever algo que não fosse para a academia. O mês de dezembro de 2009 me foi prazeiroso, pois reecontrei essa vontade, vontade tamanha, que hoje sinto falta de por aqui não me expressar.

Por algum motivo eu acho que ainda não entrei em um ano novo, acho que dezembro anunciava algumas mudanças que ainda não ocorreram. Não que eu não tenha nada a dizer, ou que nada de bom ou pertinente de ser escrito tenha acontecido. Há sempre o quer ser escrito, só não tenho tido urgência em me expressar.

Fui colocar em ordem umas três toneladas de papéis que guardo em ármario cor de marfim(peçinha) em minha casa; textos, certificados, documentos, provas e produções. Nessa bagunça toda que me esforçei para arrumar eu reecontrei alguns poemas que na adolescencia escrevi.

Como lembrar das coisas, das pessoas e das situações, é também muito engraçado ler poemas da adolescência. Percebemos o quanto mudamos e envelheçemos, mas as mudanças não foram tão drásticas. Mesmo adolescentes, já tinhamos impressões de nós mesmos, com certeza.

Ao ler esses poemas tive uma vontade de compartilhar essa minha adolescência, já que não estou conseguindo compartilhar o presente. Engraçado que, nunca gostei de que outros tivessem acesso a esses poemas, mas também, nunca tive coragem de desfazê-los.




Alucinado escarCÉU


Na hora dele ir, a terra ferve
Deuses e deusas copulam
saudando o amor entre os dois astros
o divino orgasmo germina o fogo
que se alastra cancerinamente por todos os infinitos espaços
forçando nos insanos um carregado e desatinado suspiro
E os gatos brancos escurescem
o misticismo exalar no ar
As estrelas unem um mutante e psicodélico quebra-cabeças
Encanta e alucina a nossa menina, já um pouco machucada, é imprevisível como toda mulher
Seu brilho explode e contagia olhos e corações acordados
em sua maior intensidade torna possível avistar os imortais
livres em sua mais pura forma de vida

Em sua volta ele traz um silêncio confortante
Os amantes noturnos agora mansamente dormem
leves como se Deus tivesse os abraçados
e o mortal da matéria inícia seu fardo
21:00 31/5/04 Gabriel Oli

Sempre gostei de admirar o pôr ou nascer do sol. Morei por muito tempo em Igarapava onde tive sempre acima de mim um céu maravilhoso e propenso à contemplação. Do telhado de minha casa eu pudia assistir à toda a cidade, em alguns momentos acordava de madrugada para ver o sol nascer do telhado. Observava e admirava. Esse poema, lendo-o agora, me lembrou muito Led Zeppelin com suas músicas místicas, principalmente a música "the battle of evemore".

Na adolescência também vamos conhecendo o valor de algumas amizades, de algumas pessoas que amamos e que queremos bem. Esse poema escrevi quando sai de Igarapava:


Estrelas Terrestres em meu Porto de Canoas

Algumas pessoas temem o abandono. Eu também.
Por mais forte que sejam nossas raízes,
o vento sopra violentamente e, sempre, nos leva a ambientes diversos
O arrastar da vida deixa marcas

Neste porto ficam algumas estrelas terrestres
Será díficil sentir seu calor, força e vida à distância
porém são grande astros, quentes seres e belas almas
que não irei esquecer ou abandonar
Ao caminhar por essa cidade
não vejo apenas os carros, as contruções e os cachorros
É visto e sentido o primeiro beijo
o primeiro porre
o primeiro amor
São lembranças. Boas recordações.

Este buraco calorosamente me acolheu
Todo ser humano é um nômade
que se instala em vidas alheias para depois deixá-las. Nuas.
Também sou um nômade e esse buraco já não me sustenta.
Jã não me adapto aqui e tenho a necessidade de ir
Nem os pássaros tem a liberdade de voar para onde querem, por que eu teria?
Pelo menos, sou livre para amar este porto e as pessoas que aqui vivem
e intensamente usufruo esse direito
gostaria de deixar alguma coisa a mais que não fosse boas lembranças
então, deixo um apelo: Brilhem, minhas estrelas terrestres, brilhem!
Mad Eros 06/12/02

Devo dizer que que Mad Eros foi um pseudônimo, que hoje acho bem engraçado, mas não mais do que a maneira como eu escrevia, principalmente, sobre as experiências ( e desilusões) amorosas.
O Corte Final
A dor nada mais é do que o querer continuar
teu bisturi é grande
teu dragão forte
Nem mesmo o mais bravo, dos mais bravos deuses do Olimpo
conseguiria chegar onde eu cheguei,
porém, chegou um hora em que tua ajuda se fez necessária
e ao invés de curar, fez maior os ferimentos.
Doeu. Uma profunda e incessante dor

Mas, no Grand Finale desfez-se o sofrimento
a luta não foi vã.
Poemas escritos.
Medos quebrados.
Forças criadas.

Quero que vá para o inferno
junto às tuas contradições, negações e incertezas
Vá! Mas... não te esqueças o que eu te disse sobre os deuses
No corte final não há dor
Com teu bisturi já cheio de sangue
tens a gostosa ilusão de que me mataste

Não há mais a dor.
Não há morte.
Há... libertação.
Obrigado.
Mad Eros 03/11/02

Acho tão interessante ver como o adolescente sofre. Parece que o mundo vai desabar. Mad Eros foi muito importante na minha vida no sentido de que me ajudou a expressar toda a vastidão e complexidade de sentimentos, muitos dos quais eu não sabia lidar. E acredito que a concretização dessa expressão, os poemas, muito me ajudaram a formar (e reformular) pensamentos, repensar atitudes e relações. Como ainda hoje ajudam.
Obrigado novamente a quem teve a paciência de me ler. Um grande abraço e até uma próxima.

Saudações, Gabriel Oliveira

O dia em que Mabata-Bata explodiu



conto retirado do livro Vozes anoitecidas de Mia Couto*** site: http://www.livrosparatodos.net





O dia em que explodiu Mabata - bata





De repente, o boi explodiu. Rebentou sem um múúú. No capim em volta choveram pedaços e fatias, grão e folhas de boi. A carne eram já borboletas vermelhas. Os ossos eram moedas espalhadas. Os chifres ficaram num qualquer ramo, balouçando a imitar a vida, no invisível do vento.
O espanto não cabia em Azarias, o pequeno pastor. Ainda há um instante ele admirava o grande boi malhado, chamado de Mabata-bata. O bicho pastava mais vagaroso que a preguiça. Era o maior da manada, régulo da chifraria, e estava destinado como prenda de lobolo do tio Raul, dono da criação. Azarias trabalhava para ele desde que ficara órfão. Despegava antes da luz para que os bois comessem o cacimbo das primeiras horas.
Olhou a desgraça: o boi poeirado, eco de silêncio, sombra de nada.
“Deve ser foi um relâmpago”, pensou.
Mas relâmpago não podia. O céu estava liso, azul sem mancha. De onde saíra o raio? Ou foi a terra que relampejou?
Interrogou o horizonte, por cima das árvores. Talvez o ndlati, a ave do relâmpago, ainda rodasse os céus. Apontou os olhos na montanha em frente. A morada do ndlati era ali, onde se juntam os todos rios para nascerem da mesma vontade da água. O ndlati vive nas suas quatro cores escondidas e só se destapa quando as nuvens rugem na rouquidão do céu. É entao que o ndlati sobe aos céus, enlouquecido. Nas alturas se veste de chamas, e lança o seu voo incendiado sobre os seres da terra. Às vezes atira-se no chão, buracando-o. Fica na cova e a deita a sua urina.
Uma vez foi preciso chamar as ciências do velho feiticeiro para escavar aquele ninho e retirar os ácidos depósitos. Talvez o Mabata-bata pisara uma réstia maligna do ndlati. Mas quem podia acreditar? O tio, não. Havia de querer ver o boi falecido, ao menos ser apresentado uma prova do desastre. Já conhecia bois relampejados: ficavam corpos queimados, cinzas arrumadas a lembrar o corpo. O fogo mastiga, não engole de uma só vez, conforme sucedeu-se.
Reparou em volta: os outros bois, assustados, espalharam-se pelo mato. O medo escorregou dos olhos do pequeno pastor.
- Não apareças sem um boi, Azarias. Só digo: é melhor nem apareceres.
A ameaa do tio soprava-lhe os ouvidos. Aquela angústia comia-lhe o ar todo. Que podia fazer? Os pensamentos corriam-lhe como sombras mas não encontravam saída. Havia uma só solução: era fugir, tentar os caminhos onde não sabia mais nada. Fugir morrer de um lugar e ele, com os seus calções rotos, um saco velho a tiracolo, que saudade deixava? Maus tratos, atrás dos bois. Os filhos dos outros tinham direito da escola. Ele não, não era filho. O serviço arrancava-o cedo da cama e devolvia-o ao sono quando dentro dele já não havia resto de infância. Brincar era só com os animais: nadar o rio na boleia do rabo do Mabata-bata, apostar nas brigas dos mais fortes. Em casa, o tio adivinhava-lhe o futuro:
- Este, da maneira que vive misturado com a criação há-de casar com uma vaca.
E todos se riam, sem quererem saber da sua alma pequenina, dos seus sonhos maltratados. Por isso, olhou sem pena para o campo que ia deixar. Calculou o dentro do seu saco: uma fisga, frutos do djambalau, um canivete enferrujado. Tão pouco não pode deixar saudade. Partiu na direcção do rio. Sentia que não fugia: estava apenas a comeaçr o seu caminho. Quando chegou ao rio, atravessou a fronteira da água. Na outra margem parou à espera nem sabia de quê.
Ao fim da tarde a avó Carolina esperava Raul porta de casa. Quando chegou ela disparou a aflição:
- Essas horas e o Azarias ainda não chegou com os bois.
- O quê? Esse matandro vai apanhar muito bem, quando chegar.
- Não é que aconteceu uma coisa, Raul? Tenho medo, esses bandidos...
- Aconteceu brincadeiras dele, mais nada.
Sentaram na esteira e jantaram. Falaram das coisas do lobolo, preparação do casamento. De repente, alguém bateu porta. Raul levantou-se interrogando os olhos da avó Carolina. Abriu a porta: eram os soldados, três.
- Boa noite, precisam alguma coisa?
- Boa noite. Vimos comunicar o acontecimento: rebentou uma mina esta tarde. Foi um boi que pisou. Agora, esse boi pertencia daqui.
Outro soldado acrescentou:
- Queremos saber onde está o pastor dele.
- O pastor estamos à espera – respondeu Raul. E vociferou: - Malditos bandos!
- Quando chegar queremos falar com ele, saber como foi sucedido. E bom ninguém sair na parte da montanha. Os bandidos andaram espalhar minas nesse lado.
Despediram. Raul ficou, rodando à volta das suas perguntas. Esse sacana do Azarias onde foi? E os outros bois andariam espalhados por aí?
- Avó: eu não posso ficar assim. Tenho que ir ver onde está esse malandro. Deve ser talvez deixou a manada fugentar-se. E preciso juntar os bois enquanto é cedo.
- Não podes, Raul. Olha os soldados o que disseram. É perigoso.
Mas ele desouviu e meteu-se pela noite. Mato tem subúrbio? Tem: onde o Azarias conduzia os animais. Raul, rasgando-se nas micaias, aceitou a ciência do miúdo. Ninguém competia com ele na sabedoria da terra. Calculou que o pequeno pastor escolhera refugiar-se no vale.
Chegou ao rio e subiu as grandes pedras. A voz superior, ordenou:
- Azarias, volta. Azarias!
Só o rio respondia, desenterrando a sua voz corredeira. Nada em toda volta. Mas ele adivinhava a presena oculta do sobrinho.
- Apareça lá, não tenhas medo. Não vou-te bater, juro.
Jurava mentiras. Não ia bater: ia matar-lhe de porrada, quando acabasse de juntar os bois. No enquanto escolheu sentar, estátua de escuro. Os olhos, habituados à penumbra desembarcaram na outra margem. De repente, escutou passos no mato. Ficou alerta.
- Azarias?
Não era. Chegou-lhe a voz de Carolina.
- Sou eu. Raul
Maldita velha, que vinha ali fazer? Trapalhar só. Ainda pisava na mina, rebentava-se e, pior, estoirava com ele também.
- Volta em casa, avó!
- O Azarias vai negar de ouvir quando chamares. A mim, há-de ouvir.
E aplicou sua confiança, chamando o pastor. Por trás das sombras, uma silhueta deu aparecimento.
- Es tu, Azarias. Volta comigo, vamos para casa.
- Não quero, vou fugir.
O Raul foi descendo, gatinhoso, pronto para saltar e agarrar as goelas do sobrinho.
- Vais fugir para onde, meu filho?
- Não tenho onde, avó.
- Esse gajo vai voltar nem que eu lhe chamboqueie até partir-se dos bocados - precipitou-se a voz rasteira de Raul.
- Cala-te, Raul. Na tua vida nem sabes da miséria. - E voltando-se para o pastor: - Anda meu filho, só vens comigo. Não tens culpa do boi que morreu. Anda ajudar o teu tio juntar os animais.
- Não preciso. Os bois estão aqui, perto comigo.
Raul ergueu-se, desconfiado. O coraao batucava-lhe o peito.
- Como ? Os bois estão aí?
- Sim, estão.
Enroscou-se o silêncio. O tio não estava certo da verdade do Azarias.
- Sobrinho: fizeste mesmo? Juntaste os bois?
A avó sorria pensando no fim das brigas daqueles os dois. Prometeu um prémio e pediu ao miúdo que escolhesse.
- O teu tio está muito satisfeito. Escolhe. Há-de respeitar o teu pedido.
Raul achou melhor concordar com tudo, naquele momento. Depois, emendaria as ilusões do rapaz e voltariam as obrigações do serviço das pastagens.
- Fala lá o seu pedido.
- Tio: próximo ano posso ir na escola?
Já adivinhava. Nem pensar. Autorizar a escola era ficar sem guia para os bois. Mas o momento pedia fingimento e ele falou de costas para o pensamento:
- Vais, vais.
- É verdade, tio?
- Quantas bocas tenho, afinal?
- Posso continuar ajudar nos bois. A escola só frequentamos da parte de tarde.
- Está certo. Mas tudo isso falamos depois. Anda lá daqui.
O pequeno pastor saiu da sombra e correu o areal onde o rio dava passagem. De súbito, deflagrou um clarão, parecia o meio-dia da noite. O pequeno pastor engoliu aquele todo vermelho. era o grito do fogo estourando. Nas migalhas da noite viu descer o ndlati, a ave do relâmpago.
Quis gritar:
- Vens pousar quem, ndlati?
Mas nada não falou. Não era o rio que afundava suas palavras: era um fruto vazando de ouvidos, dores e cores. Em volta tudo fechava, mesmo o rio suicidava sua água, o mundo embrulhava o chão nos fumos brancos.
- Vens pousar a avó, coitada, tão boa? Ou preferes no tio, afinal das contas, arrependido e prometente como o pai verdadeiro que morreu-me?
E antes que a ave do fogo se decidisse Azarias correu e abraçou-a na viagem da sua chama.








***Nasceu na Beira, a segunda maior cidade de Moçambique, em 1955, trabalhou como biólogo, e jornalista e iniciou-se na literatura com livros de poesias e crônicas. Entretanto seus trabalhos de maior destaque hoje são os livros de contos e romances. Possui extensa obra publicada e é ganhador de vários prêmios nacionais e internacionai, é considerado o escritor moçambicano mais lido dentro e fora do país

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

dias de silêncio

fonte: Yahoo!


Eu queria escrever algo bonito sobre o Haiti, vejo as notícias, as pessoas, os mortos, os mortos-vivos, fome e destruição. Mas, eu não consigo. Talvez, o melhor mesmo, diante tamanha perplexidade, seja o silêncio. Remédio que não cura ou alivia, mas eu não consigo falar, escrever, frio na espinha, perplexo e paralisado tentando conter a dor no peito, não acho que tenho o direito de falar algo bonito sobre isso, algo que conforte, e simplesmente não consigo, prefiro o silêncio da dor que os outros vivem e que nos fazem pensar ou até chorar.