sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Deus, a solidão e a condição humana



As pessoas, em geral, tem tanto medo, não que eu também não tenha. As pessoas tem medo de não acreditar em Deus. As pessoas tem medo da solidão.


Eu não. Já me acostumei, desde a infância, a conviver com a idéia de que somos sós, de que não há meios humanos para fugir da condição humana.


Eu poderia acreditar em Deus, confortar-me com a idéia de que há um plano maior para mim, que eu faço parte dos desígnios Dele, mas isso nunca me coube. Como, me pergunto, acreditar em Deus?


Alguns poderiam me responder que não haveria meios da natureza ser tão bela e perfeita, da mulher que passa (e passou) ser tão maravilhosa, do ser humano existir e ter vida
pulsante em suas veias, da vida ser cheia de "miraculosos" acontecimentos e que isso tudo que é o nosso mundo, poderia, apenas, ser obra divina.


Mas não, não me cabe. A beleza é real, a vida é real. Acho que sou muito prático e não gosto de perder tempo em me preocupar se isso, se tudo isso, foi feito por um cara no céu que chamamos ser superior. Ao contrário quero ver,viver, sentir a beleza, a vida, a tristeza e tudo mais que é intrincado e inerente à vida humana.


Somos breves, passamos simplesmente. Podemos deixar vestígios, marcas ruins ou boas. Podemos pensar que o momento é eterno, que o presente é um presente, e que o tempo não nos prende e que viveremos eternamente, como o momento, e que a morte não existe, pois não há como assassinar o que é eterno. Isso também é confortante. Mas ainda não me cabe.


Assim como não temo ter apenas uma vida, não temo ser só. Não que eu seja forte, uma rocha ou uma ilha, também assim não sou. Mas não temo ser quem sou. Ser só não me faz feliz, mas a não-felicidade também não me amedontra. Relacionamo-nos com as pessoas para suprir fraquezas, medos e inseguranças, e muitos passsam a vida inteira pensando que é real a arquitetada segurança. O conforto que adquirimos com os outros é tão construído e ilusório como a segura e cômoda idéia de existência de Deus.


Argumentem que pode tudo até ser, sim, meras construções humanas para preencher os medos e vazios causados pela insegurança da existência, uma ilusão da nossa psiquê e da sociedade
para melhor vivermos, ou vivermos mais felizes, mas mesmo assim é uma boa ilusão e, assim, fico eu sem argumentos, pois eu também construo ilusórias seguranças para me manter aqui sentado em frente ao computador escrevendo. Talvez, seja uma forma de não me sentir tão só, eu acredito que sim.


Nunca disse que gosto de ser só. Mas não gosto de fugir da condição humana, não me agrada negar que a vida é breve e única, que Deus não a criou e não tem para ela um plano maior, e que se a morte é a única certeza que temos, também sei que sou eu a única pessoa que estará comigo até o fim.


Vivemos(bem ou mal) sem Deus, sobrevivemos sós(com nossas próprias forças) e ainda permanecemos vivos, respirando no seio da não-felicidade. Somos humanos, somos fracos, mas sabemos resistir (alguns), não sem dores e machucados, mas não podemos fugir da dor, não devemos temê-la. Não tenhamos medo das perguntas sem respostas, da angústia existencial, dos confrontos de mundos e opniões, dos ferimentos da vida, da indivudalidade e da solidão desta, pois não devemos negar a nossa condição, somos humanos.


Talvez, assim, não sejamos tão felizes e não chegaramos a construir altos castelos de cartas, mas também não teremos nossas individualidades e razões atrofiadas e resignadas.
A vida segue seu rumo e cada um escolhe os seus mares navegantes.

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Para variar encerro com um pensamento do eterno José Saramago, que não foi ao céu ou ao inferno, mas plantou frutíferas árvores em seu presente, e um pensamento de Caio Fernando de Abreu.


"Não sou pessimista. O mundo é que é péssimo" e "Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro" J. Saramago

"Os homens precisam da ilusão do amor da mesma forma como precisam da ilusão de Deus. Da ilusão do amor para não afundarem no poço horrível da solidão absoluta; da ilusão de Deus, para não se perderem no caos da desordem sem nexo." C.F.A.

Gabriel Oliveira

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