domingo, 10 de outubro de 2010

Emiliano, um peixe grande




Os fins de semana! Aqueles dias que muitos esperam para recuperar as energias, para divertir e cometer loucuras, para econtrar com família e/ou amigos, ou, simplesmente para ficar em casa, com as pernas para o ar vendo os minutos passarem sem assim se preocupar.

Há finais de semana em que Emiliano Alphonsus não sai de casa. Não pense você, logo de primeira impressão que nosso referido personagem é uma pessoa anti-social, pois não seria esta uma análise bem detalhada. Tem muitos amigos, tem boas relações com as pessoas com quem convive, acredita que é melhor conviver bem com as pessoas do que semear conflitos desnecessários, e além disso, é um cara sorridente, amigo, ou como por aí chamam: "boa praça".

Mas, há finais de semana em que Emiliano não sai de casa. Sexta, sábado e domingo passa em sua caverna. Emiliano mora sozinho, se bem que, como uma boa pessoa boa em fazer amigos, não podemos dizer que Emiliano mora totalmente só, ele tem lá suas companhias breves e passageiras, ou não.

Mas, neste final de semana, Emiliano não conversou com ninguém. Nem mesmo encontrou Giselda, a perereca, de madrugada no banheiro, ou Tina, a branca largatixa, pedunrada na parede preocupada em se esconder e comer insetos, e até mesmo Clotide, a bicicleta, estava
quebrada e não serviu de companheira em pedalas furtivas pela madrugada.

O leitor atento e curioso pode-se perguntar o que faz, nesses finais de semana nosso personagem. Devemos admitir que Emiliano não é bem um cara hiperativo, possui até o que chamam de "lerdeza" em fazer coisas, uma certa não-pressa, como se tivesse vontade de degustar os momentos que passam e ações que faz. Mas, Emiliano faz coisas, não é de ficar muito tempo parado no mundo esperando alguma coisa acontecer, e mesmo quando parado, aparentemente inerte, Emiliano faz algo, estejam certo disso.

Nesse final de semana, nem as plantas e flores do jardim Emiliano regou. Há duas semanas atrás que o tempo mudou, a chuva, enfim, apareceu após três meses de exílio e Emiliano não viu mais a necessidade de regá-las todos os dias, como estava de costume. Nessa estiagem última, Emiliano por todos os dias que podia regava seu jardim, composto de flores amarelas, vermelhas, rosas, além de outras árvores que não sabe nem os seus nomes, a casa em que mora é de aluguel, não foi ele quem as plantou, mas gosta de vê-las vigorosas e apaixonantes. Regava o jardim todos os dias, ás vezes ficava mais de meia hora, observando, brincando com as cores, o verde, a água da mangueira e sua velha máquina digital. Tirava fotos, fazia filmes, adorava sentir, em meio aquele ar seco e desértico da cidade a gostosa sensação do verde molhado, da terra úmida, ás vezes era tão bom que não queria sair do jardim, queria mais é ficar ali, regando, brincando, esquecer do tempo e enfiar o nariz na terra molhada. Mas, nem isso mais Emiliano fez esse final de semana. Caiu tanta água nos últimos dias que passaram que temeu que mais água fizesse mal a suas queridas amigas verdes.

Saiu apenas no Domingo a noite. Estava com fome e não queria sua própria comida. Em alguns finais de semana como esse, Emiliano não sai sem seu fone de ouvido e o celular repleto de músicas que ele conhece e gosta. Como Clotilde estava inapta, foi a pé, como a muito tempo não fazia. Foi caminhando, ouvindo música, com as mãos aos bolsos do short, num caminhar sóbrio e tranquilo como é de costume de nosso personagem.

Pediu o lanche e uma cerveja, lata, brahma. Sentou-se, em uma mesa, em frente ao lanche na praça de seu bairro. Quando Emiliano está nesses finais de semana "de caverna" ele não tem tanta vontade de conversar, prefere mais é observar. Com o fone nos ouvidos, não presta a atênção na televisão que passa, acho que nem está tão interesssado na música que ouve. Ele vê, e não apenas vê, ele observa o mundo que se passa ao redor. Observa as pessoas, e como tem curiosidade pelas suas ações.

E ficou observando as pessoas que sairam naquele domingo, naquele final de semana, e como tem interesse nelas, como acha curioso aqueles que saem de casa para relaxar da semana exaustiva que passou, ou os que saem de casa para realmente conversar com a família ou amigos, os namorados explodindo de hormônios e desejos guardados, há aqueles até (menos afortunados) que saem no domingo a noite para trabalhar. E Emiliano adora observar.

Por favor, não entenda nosso personagem como uma pessoa "reparadeira", que gosta de observar os defeitos e mal hábitos das pessoas, o que lhe interessa mesmo são os modos, as sutilidades, as maneiras de relacionamento e os mundos possíveis que se pode imaginar ao observar as pessoas na rua.

Como tem dúvida a senhora que permanece mais de 15 minutos, imóvel, com o cardápio na mão, escolhendo o quer comer, ou como soa entediante para o garoto ajudar o pai em seu trabalho em pleno domingão, ou a feição tensa e até raivosa da moça que senta ao lado do namorado sem querer muita conversa. O que teria feito ele? Estaria ela, realmente com raiva dele, ou da mãe ou pai? Emiliano não tem tais respostas, mas adora as perguntas, simplesmente adora.

Ele parece observar as pessoas como num imenso e móvel aquário, como se fossem peixes convivendo num habitat cercado. E assim, fica a observar as ações, as feições, os trejeitos, alguns tão sem jeito, outros sem modos, fica a imaginar seus mundos, o mundo a que cada um pertence, os mares onde cada um veio e como assim vivem. Como já dito, ele não tem certeza de nada do que pensa sobre essas pessoas, nem tão pouco é de fazer conclusões ou julgamentos, Deus o livre disso.

Mas ele fica observando os peixes que nadam, cada um com um nado diferente, uma preocupação e natureza própria, e acha tão mágico observar e tentar fazer teorias ciêntíficas à base de uma observação metodológica.

Ás vezes passa pela cabeça de Emiliano que o peixe é ele, e é ele quem vive num áquario gigante e móvel, onde ninguém o toca, ninguém com ele nada, mas ele tudo observa, de dentro pra fora, de sua água para o mundo exterior, e como é curioso o mundo fora do aquário. Entretanto, se peixe mesmo for Emiliano, não é um do tipo comum, Emiliano é um peixe grande, um peixão, impescável, único e solitário.

Gabriel Oliveira

Nenhum comentário: