terça-feira, 12 de outubro de 2010

Imprevisibilidade


A vida também é feita de desencontros, mas é uma sensação muito boa aquela do estar no lugar certo, com a pessoa certa, no momento certo, e muitas dessas coisas não acontecem só por acaso como armadilhas boas do destino.

Os momentos de sonho real não surgem do nada, somos nós os seus arquitetos, somos nós que lançamo-nos ao inesperado, enfrentamos o frio na barriga e na espinha e aceitamos correr os riscos.

Não podemos prever quando viveremos mágicos momentos, em muitos casos até, nada sai como o previsto. Podemos viver ou iniciar uma gostosa aventura em uma conversa despretensiosa em um ônibus, no caminho para o trabalho, em casamentos, e talvez até (pasmem) em velórios.

Vivenciar uma gostosa aventura nos faz ascender aos céus, ou nas palavras de Noel Rosa "sambar de alegria, sorrir de nostalgia". Sentir o prazer de estar vivo, quando menos se espera, experimentar a parte alegre da imprevisibilidade e lançar-se em mares desconhecidos e prazerosos sem instrumentos de navegação provoca-nos uma explosão de vida, sentimo-nos portadores de uma potência sobre-humana e capazez de guiar o leme de nossas vidas por onde e como quisermos.

E como é bom. É como estar de carona com Neil Cassidy no México ou nas experiências de Thimoty Leary e ter, naquele momento, as chaves para todas as respostas do mundo!

Mas, a viagem tem um final (ou finais) e seus efeitos alucinógenos também. Da mesma maneira que não escolhemos todas as vezes que seremos apanhados a ter a possibilidades de viver gostosas sensações, também escapa de nossas mãos o controle de manutênção das mesmas sensações. Não é suficiente apenas boa vontade e força para guiarmos o barco, é necessário bons ventos, da mesma maneira que não apenas o amor incondicional é suficiente para a manutênção de uma boa relação.

Enfim, o destino nos convida a viver bons e únicos momentos, depende de nossas forças, vontade, sonho e uma boa pitada de coragem para que possamos vivenciar realmente o que nos aparece apenas como possibilidade, e depois somos apanhados novamente pelo curso natural das coisas e pelo instranponível tempo que nos faz acordar, voltar a realidade, pousar os pés ao chão e voltarmos aos mares de outrora, ou outros, e essas sensações por mais memoráveis que sejam, vão almotoando-se como memórias.

As infinitas possibilidades, garantida pela inerente imprevisibilidade da vida humana nos demonstra que temos uma certa gama de escolhas, que podemos escolher lutar para viver certos momentos ou não, que temos certo poder nos rumos que tomamos. Entretanto, a mesma imprevisibilidade também pode nos jogar às pedras ou aos tubarões, ou simplesmente terminar com o que é bom, com o sonhos, com os bons ventos.

Podemos, então, a partir disso, concluir que a imprevisibilidade também é uma condição humana. E se assim pensamos, apesar de termos a predisposição para temer o que é desconhecido, muitas vezes devemos nos lançar a este, alçar alto as velas, olhar nos olhos, encarar o que queremos ( e também tememos), encher o peito e lutar não apenas para prolongar as boas sensações, mas principalmente para podermos viver todos os bons momentos a que tivermos a possibilidade, para saborearmos todos os chocolates, do doce ao amargo, para imortalizar e eternizar (mesmo que sejam finitos e breves) os bons momentos. Antes que nossa vida anoiteça!
Gabriel Oliveira
------------------------------------------------------------------------------------------Alguns versos conhecidos de Vinicius de Moraes


Soneto de Separação


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente"

"Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."

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